segunda-feira, 7 de outubro de 2013

ROMERO BRITTO POR ROMERO BRITO

OS 50 ANOS DE ROMERO BRITtO



Artista plástico brasileiro vivo mais bem-sucedido do planeta, o pernambucano Romero Britto completa 50 anos neste domingo, dia 06 de outubro de 2013. Da infância humilde em Prazeres, Jaboatão, o recifense tem só a lembrança: passou a ser admirado e consumido em mais de 125 países. Íntimo de chefes de estado e celebridades, autor de quadros expostos em museus, galerias e espaços públicos dos mais prestigiados, com faturamento anual superior a US$ 80 milhões, Romero atingiu um estágio de glória na arte: o que ele pinta, com estilo peculiar e muitas cores, vale ouro.


A pedido da Revista Viver, Diário de Pernambuco, Romero Britto enviou uma imagem exclusiva para a reportagem do dia 06 de outubro de 2013. O artista resolveu homenagear o padrinho, o sociólogo Gilberto Freyre. A tela é inédita e celebra a admiração de Romero: "Ele (Gilberto Freyre) é a personalidade mais icônica do Recife e sempre me apoiou, mesmo antes de eu ter sequer um fã"

ROMERO DE MIDAS

O artista plástico brasileiro mais bem-sucedido do mundo queria ser diplomata. À época, Romero Britto vivia em Pernambuco e cursava direito na Universidade Católica. O desejo de ser um embaixador do Brasil era promessa de fuga vislumbrada pela amizade com o filho de um cônsul inglês. Imprimiria distância à rua sem calçamento em que cresceu, no bairro de Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes, e carimbos no passaporte. A pintura era outro escape. O recifense usava o que estivesse à mão - jornal, papel, papelão, a parede da casa onde morava com a mãe, Dona Lourdes, e oito irmãos. "Eu tinha esse sonho de ver o mundo". E viu. Há dez dias, Romero debatia o momento da "eureca na arte" no Fórum Mundial de Davos, em Dalian, na China, e, em quinze dias, estará na Itália, visitando a coleção particular do papa Francisco.
                                                Romero Britto. Crédito: Arquivo Pessoal
Neste domingo, Romero da Silva Francisco Britto chega aos 50 anos com uma renda anual de US$ 80 milhões (R$ 170 milhões), cerca de cinco mil telas pintadas, exposições em 140 galerias de 127 países, tendo ainda colorido carros da Audi, Volvo e Ford, troféus do Grammy, instrumentos do Montreux Jazz Festival, adereços do Cirque du Soleil para apresentação na final do Super Bowl (evento esportivo de maior audiência nos Estados Unidos), em 2007. Assinou retratos da família real inglesa, da presidente Dilma Rousseff, de Madonna e Frida Kahlo.
Defensor da produção em massa, Romero assina com mesmo afinco memorabília para 50 marcas, em cerca de 11 países - entre elas, Tupperware, Tilibra, Grow, LG e Mattel. Os contratos de licenciamento - para Romero, uma forma de popularizar seu trabalho em pratos, guarda-chuvas, malas, joias e afins - foram estimados em US$ 2 milhões em 2012. "Penso que a arte deve chegar perto, como a música, as cênicas, a TV, o cinema", opina. Aproveita e cita que o pintor Pablo Picasso criou muito, "em massa", e que até hoje "se descobre obra nova do espanhol em algum lugar". O pernambucano defende que, sem produção em série, o artista cai no ostracismo e, talvez por isso, seja um golpe duro ser esquecido em Pernambuco.
O Recife, cidade natal, nunca lhe encomendou uma obra. A Bola de praia, escultura no Aeroporto Internacional do Recife - Gilberto Freyre, veio de uma doação de oito peças da galeria Britto Central para a Infraero. Outra obra à vista, além das paredes dos colecionadores locais, é o avião DC3 da Força Aérea Brasileira, pintado por Romero, no pátio da faculdade Aeso - Barros Melo, em Olinda. "Já falaram em encomendar uma escultura minha para o Recife, mas nunca vingou… é uma pena, mas deixa pra lá", lamenta o artista.
Romero saiu da capital pernambucana pela primeira vez em 1983, para uma temporada na Europa. A mudança definitiva para Miami, destino preferido das celebridades latinas e cidade classificada por ele como "o Recife nos Estados Unidos", só aconteceu cinco anos depois. Antes, recebeu do padrinho, o sociólogo Gilberto Freyre, uma carta de apresentação: "Grandemente intuitivo, perceptivo, receptivo, o contato com idôneos meios estrangeiros será extremamente benéfico ao amadurecimento de suas notáveis predisposições nas artes plásticas". Parecia até premonição: as cores fizeram de Romero embaixador mundial do sucesso.


PRETO NO BRANCO
Romero Britto fala rápido - em uma mistura de inglês com o típico pernambucanês - e tem a mania de responder a perguntas difíceis começando com "vou dizer uma coisa pra você". Só dorme melhor hoje por recomendação médica (antes achava que era perda de tempo). Talvez por isso tenha respondido em cerca de duas horas ao e-mail que solicitava essa entrevista. Talvez tenha sido por achar importante falar sobre sua arte. "Não pinto só para mim mesmo", observa. Talvez porque seja ainda mais importante falar para Pernambuco, como disse ele em uma das respostas. Demonstra ser apaixonado pela esposa Cheryl, uma ex-enfermeira norte-americana com quem teve Brandon, seu filho de 25 anos. "A Cheryl faz um ótimo trabalho educando o Brandon e eu tento não estragar isso", comenta. Falou também sobre a mãe, os irmãos, a infância difícil, sobre reconhecimento.
Na primeira vez em que entrei em contato com você sobre essa entrevista, recebi uma resposta sua em questão de horas. Por que respondeu tão rapidamente?
Vou dizer uma coisa pra você, eu tento ser - ao máximo - bem rápido em tudo o que faço, e comunicação é uma coisa muito importante para mim. É importante também que eu fique atento, em cima das coisas, para não deixá-las no esquecimento. As coisas (e as pessoas) quando são muito próximas tendem a não serem valorizadas. Também por ser um contato de Pernambuco, do Diario… um contato de Pernambuco é muito importante. Juntou tudo.
Você sente que é valorizado em Pernambuco?
Olha, tem pessoas que colecionam meu trabalho e eu não quero julgar. Talvez seja porque eu não esteja aí, ou porque as pessoas no Recife tenham outros interesses - como carro e casa… a arte fica mesmo secundária, mas tem outras cidades que valorizam muito mais a minha arte. O Rio de Janeiro é a capital do Brasil que mais tem obras minhas, depois vem Miami e a Suíça. Em Cingapura há 16 esculturas minhas nas ruas e o presidente me encomendou mil miniesculturas para presentear dignatários. Já falaram em encomendar uma escultura minha para o Recife, mas nunca vingou. (Pausa) É uma pena, mas deixa pra lá.
Você ainda se sente em casa em Pernambuco?
Quando minha mãe estava viva, eu ia mais ao Recife. Minha mãe faleceu há dois anos e agora, quando vou, fico em hotel ou na casa de uma amiga, Ivânia Barros Mello.
Como era a sua mãe?
Ah, minha mãe era muito dedicada. Dona de casa mesmo. Vivia para os filhos. Teve 12 filhos, tomou conta de nove, sem nunca ter casado de novo ou ter tido alguém para ajudá-la.
Tem contato com seus irmãos?
Tenho, mas não tanto quanto deveria por causa da minha agenda. Sempre fui diferente, a "ovelha negra da família", não por ser mau, mas por estar desconectado dos meus irmãos: eles jogavam bola e eu queria ler livros, queria fazer amizades que me inspirassem. Eu era de um planeta e eles eram de outro. Morávamos em Prazeres, uma área bem pobre, bem difícil, a rua em que nós morávamos era difícil, mas lembro de gostar de andar por ali. Pegava a Arão Lins de Andrade e chegava na praia. Ali era meu paraíso!
Além da praia, da caminhada pela Arão Lins de Andrade, você lembra de outros locais preferidos?
Gostava do Centro do Recife. Estudei no Marista, no bairro da Boa Vista. Gosto dos casarios antigos de lá. A cidade é linda, mas um pouco abandonada, como se faltasse mais cuidado. Se eu tivesse a oportunidade de falar com o prefeito, pediria para ele plantar mais e pintar o casario, fazer calçadas em que se possa andar. Mas imagino que deva ter tanto a ser feito que fica complicado pensar em jardim e pintura de fachadas.
É difícil encontrar informações sobre a sua família. É de propósito?
Como não perguntam, eu não falo, mas não tem nenhuma proteção especial, não.
Seu filho pinta?
Ah, o Brandon. Sempre dizia que ele é a criança do Renascimento, "Renascence kid", mas agora é um homem de 25 anos e o chamo de "Renascence man". Ele sempre gostou de pintura, quando era menor. Mas agora o interesse dele é engenharia de som.
E sua esposa?
A Cheryl também não pinta. O que ela gosta é de escrever. Digo que ela deveria publicar um livro, mas ela prefere escrever só para ela mesma.
Seu novo hobby é o golfe. Tem outros hobbies?
Quero fazer coisas que nunca fiz, sabe? Quero tocar piano, aprender e ser capaz de tocar uma música inteira. Jogar tênis, também quero. Só não quero algo que vá me colocar em uma situação complicada, como pular de paraquedas. Vou começar a pintar telas inspiradas no golfe.
É embaixador da Copa do Mundo pela Fifa. Gosta de futebol?
Acho esporte o máximo, pela disciplina que promove. Pela possibilidade de ocupar a mente e afastar das drogas…
Mas, e futebol, você torce para algum time?
Ah, torço para um monte de times. Torço sempre pelo que está ganhando.
Pratica alguma religião?
Fui criado no catolicismo, mas sou aberto a religiões e respeito todas elas… adoro ler sobre história das religiões. Dia 19 de outubro estarei no Vaticano, verei o papa Francisco e a coleção de arte dele.
É tão feliz quanto um quadro seu?
Minha arte é o estado em que quero estar o tempo todo! Estou sempre pintando a vida que queria ter.
Como está sendo a chegada dos 50 anos?
Para mim, é uma surpresa. Não estou dizendo que ter 50 anos é o fim da picada, sabe? Mas não me sinto com 50.
Como vai comemorar?
Vou ter duas festas de aniversário: uma aqui em Miami e outra no México.
É verdade mesmo que quando se enriquece parentes que você nem conhecia batem à sua porta?
Nem queira saber, é uma loucura!
Pode descrever como foi seu dia até agora?
Durmo tarde e acordo cedo. Sempre pensei que dormir era perda de tempo, mas hoje entendo que é importante para a saúde. Hoje acordei às 5h e abri logo as cortinas da minha casa para olhar o jardim… adoro jardim! Às 5h30 já estava na academia, com meu personal (trainer). Terminei o alongamento e fui tomar café da manhã na Ocean Drive [a avenida mais badalada de Miami]. Depois voltei ao estúdio e fui terminar um quadro que preciso entregar hoje. Agora [eram por volta das 11h do Brasil e 10h em Miami] estou conversando com você e assinando um contrato importante.

EM CORES FORTES


 

Romero Britto começou a significar mais do que um nome estrangeiro nos Estados Unidos com o contrato que assinou com a Absolut Vodka, em 1990. A criação para a bebida sueca foi batizada de Absolut Britto e estampou 61 revistas norte-americanas. Imediatamente, o pernambucano foi transformado em persona pop. Eileen Guggenheim, herdeira do Museu de Nova Iorque, caiu de amores por Britto e defendeu que ele "constrói mundos em que o êxtase e a serenidade reinam supremos". Uns teciam comparações a Andy Wahrol, líder da pop art, outros torciam o nariz. Enquanto isso, o público consumidor se apaixonava.
Da arte em jornais e diversos suportes do início dos anos 1980, vieram o caju e a natureza-morta pintada a óleo por volta de 1985. Quando a Absolut aconteceu, Romero já usava o acrílico com a mais diversa paleta de cores e chapava os contornos com muito preto. É como se os traços fortes organizassem seu mundo. "Cresci com uma vida muito caótica. Na minha casa tinha cachorro, galinha", lembra. Foi também enquanto cumpria o contrato com a vodca sueca que começou a assinar seu nome por toda a criação. Hoje, segundo Romero, ele faz "uma arte direta, positiva, alegre e colorida".
Fã do conterrâneo Francisco Brennand, Romero coleciona ainda obras de João Câmara e Virgolino. Diz ainda admirar Matisse, Michelangelo, Da Vinci e Picasso, pintor espanhol a quem foi comparado por crítico alemão.


Você começou como grafiteiro?
Olha, vou falar uma coisa pra você, não comecei com grafitti não. Nunca saí e pintei o muro da casa de ninguém, como se fazia nos anos 1980. Mas já ouvi muita gente dizer: 'Romero começou com grafitti, pintou minha casa'... então, deixo as pessoas comentarem. Mas comecei a fazer desenho em casa, com guache, com dedo… fiz tanta coisa antes de chegar aonde cheguei.
Costumava pintar em jornais velhos. Por que jornais e não outro suporte?
Usava tudo. Quando você não tem material, você não espera pelo grande dia… Me movimentei, usei o que tinha à mão. Nunca fiquei esperando para ter telas e ter estúdio, papel, pintava em jornal, na parede da casa da minha mãe. Até hoje uso o que tenho. Se algo quebra lá no estúdio, reciclo, faço colagem. Não gosto de jogar coisas fora. Fiz muitos trabalhos em jornal. Aliás, comia… [Romero para e pergunta à assistente como se chama a comida que se compra no Farmer’s Market, rede mercado de orgânicos dos Estados Unidos, e ela responde: 'orgânica']... comida orgânica nos nos anos 1980 e não sabia: minha mãe matava as galinhas que criava.
Ainda guarda alguma criação desse período?
Depois que comecei com o estilo atual do meu trabalho, passei anos guardando todas as minhas criações antigas. Vinte anos! Mas, há três anos, fiz uma exposição aqui em Miami e vendi tudo, não tenho praticamente mais nada.
Qual foi o ponto de virada da sua arte?
Eu acho que tive vários momentos importantes. O sucesso não vem de um momento só, mas a encomenda da Absolut Vodka foi importante. Foi um desafio fazer algo tão diferente. E me comuniquei com muita gente, de maneira imediata. Passei três meses fazendo (hoje não demoro mais tanto tempo com nenhuma encomenda porque as pessoas passam muito tempo esperando por uma obra minha), mas o resultado foi incrível porque fiz algo que chamou a atenção de atores, cantores… e a atenção de artistas não é fácil de se conquistar. Foi aí que comecei a crescer, foi um momento mágico. Ainda hoje tenho momentos importantes.
Você falou que a fila de espera por seu trabalho é grande…
Bom, depende. Tem quem espera dois anos. Porque, às vezes, recebo projetos especiais. Tem quadros que quero terminar, mas não consigo. Passei oito anos para pintar Look into the future – é uma tela com muita gente, muitos detalhes.
Alguém em especial que lhe ajudou nesse momento de virada?
Não teve ninguém que, por assim dizer, me descobriu, mas há pessoas especiais. Nos últimos quinze anos, a galerista Alina Shriver tem sido uma grande incentivadora da minha arte – toma conta da galeria, faz projetos especiais...
Como ir para a Europa influenciou sua carreira?
Eu tinha esse sonho de conhecer mais do que eu via no Recife, queria ver o mundo. Eu pintava quando dava, colecionava selos e estudava Direito na Unicap (fui até o quarto ano porque queria ser diplomata, para viajar e ver o mundo). Foi quando tive a oportunidade de passar um ano na Europa, na casa de amigos. Conhecia uma família na Inglaterra, outra na Alemanha, e assim fiquei. Mas estava triste com os planos de voltar a estudar. Estava desiludido e um amigo, o Leonardo Conte, que estudava em Miami me chamou para passar por lá, antes de voltar ao Brasil. Vi ali que tinha uma oportunidade. As coisas aconteciam mais rápido do que na Europa - que é pouco dinâmica. Então, desisiti da diplomacia e fui dar atenção à minha arte. E já no primeiro mês do governo de Dilma fui chamado ao Palácio da Alvorada e recebido por ela.
Foi difícil imigrar para Miami?
Eu já falava um pouco de inglês, mas vindo para cá, as coisas são diferentes e você acaba tendo que aprender a falar tudo, você sabe… mas ninguém nunca me tratou diferente por ser imigrante. Talvez por ter escolhido Miami, onde todo mundo é aberto a todo tipo de gente.
Você ainda se sente como imigrante?
Me sinto do universo, do mundo inteiro, me sinto bem aqui, me sinto bem no Brasil, na China. No futuro, na verdade, o que quero fazer é ter uma residência no Brasil, outra em Londres, outra na China - quero montar um estúdio na China. Quero ter vários locais como base e fazer menos viagens, mas com estadias mais longas. Nesse ano, fui umas onze vezes ao Brasil. Em 2014, quero ir menos vezes, mas passar mais tempo.
Como foi sua primeira grande venda?
Não me focalizo nas vendas, deixo que a minha equipe tome conta disso. Mas, para lhe dar uma ideia, quando fiz a pirâmide em homenagem ao faraó Tutancâmon, no Hyde Park, em Londres, vendi por US$ 2 milhões. Tenho um quadro de 24 x 30 que vendi para um colecionador por US$ 800 mil. Hoje, tenho um estúdio de 50 mil metros quadros em Miami. Os filhos do Carlos Slim Helu [mexicano apontado pela revista Forbes como o homem mas rico do mundo] costumam vir para cá me ver pintar...
Ao mesmo tempo em que faz grandes vendas, é extremamente pirateado. Isso incomoda?
O sucesso traz de tudo: traz alegria e traz tristeza. Nunca imaginei que minha arte fosse ser tão copiada em todo mundo - em Cingapura, na China, no Japão, copiam em todos os lugares. Dá alegria ver crianças admirando meu trabalho e dizendo que as levei a pintar, mas quando vejo pessoas me roubando, fico triste. É complicado, mas tento lidar com isso.
Dá para escolher um trabalho preferido?
Consegui desenvolver desenhos simples, mas que, mesmo assim, são especiais. E cada um deles significa uma coisa rara para mim. Tenho orgulho da série que pintei para celebrar a educação a pedido da ONU. E essas telas viraram selos comemorativos - e eu colecionava selos quando era mais jovem (me sentia viajando o mundo com os selos)! Também gosto dos selos que pintei para os 450 anos de São Paulo. Fiquei feliz. Também fiz selos para a China.
Tem um quadro seu na reitoria da Unicap. Você lembra dele?
Lembro. Foi de uma exposição que fiz lá. O professor Armando Costa Carvalho, que ensinava Direito e mexia com cultura, me apoiou na época. É uma honra ter um quadro meu desta época nas paredes da Unicap.



As críticas de colegas artistas de que sua obra seria repetitiva, comercial e não apresenta possibilidades subliminares de interpretação lhe incomodam?
As pessoas podem falar o que quiserem, o mais importante e como me sinto quando faço minha arte! Não acredito que a arte deva ficar restrita a poucos. Penso que ela deve chegar perto de todos, como a música, as cênicas, a TV, o cinema… por que não as artes visuais? Estou aberto a levar minha arte para as massas, não vou ficar criando só para ricos. Quem quiser um original, que tenha. Quem não, tem outras opções. Mas se você tem uma nova ideia , você incomoda. Se você é um artista visual e cria pouco, cai no esquecimento. O mundo tem mudado e para a arte também. O que é lido no jornal e na revista, ou visto na televisão, a não ser que seja grandioso, cai no esquecimento porque a quantidade de informações que se recebe todo dia é enorme. Em geral, ninguém dura mais do que cem anos, portanto, os curadores, os admiradores vão embora… o que vai ficar é a arte. E o artista se só tem gente para falar, não vai ficar. Só fica algo que transcenda o físico, as histórias, aos pouquinhos, vão se apagando e quem vai falar de vários presidentes do passado, por exemplo? Na velocidade dessa nova maneira de se comunicar, quem lembra de algo que não e essencial? Podemos até lembrar da Dilma [Rousseff] porque ela é uma heroína, a primeira mulher presidente do Brasil. Mas, o artista que não cria sempre, não tem como competir com novela, futebol, tênis, natação. Se o mundo da arte é bem pequeno, só um público pequeno aprova. Marilyn Monroe, Pelé, se congelaram em um tempo importante da história. Hoje em dia, para se ter isso, é preciso ter um feito extremamente importante. Quem vai ser o novo Michael Jackson, Justin Bieber? E Elvis, quem vai herdar o espaço deixado por ele? E Mandela? Hoje, se você não produz muito, fica esquecido.


Um crítico alemão lhe comparou a Picasso. Você concorda?
Se me comparam a alguém maravilhoso, adoro. Adoro Picasso. E acredito que se ele não fosse tão prolífico, sua arte não teria acontecido. Até hoje tem peça dele aparecendo, sendo descoberta. A arte dele ainda vive. E, nessa produção, somos parecidos.
Tem algum artista plástico pernambucano que admira?
Adoro o Francisco Brennand. Ele sempre foi uma inspiração para mim. Não apenas como artista, mas inspiração como pessoa mesmo. Também admiro a obra de Virgolino.
E, de maneira geral, quem são seus ídolos?
Adoro Picasso, Matisse, Michelangelo, Da Vinci… (pensa um pouco) gosto de Michael Jackson, Elvis Presley, Elton John, Marilyn Monroe.
Recentemente pintou um quadro para os 25 anos de O alquimista. Pode comentar?
Fiz uma série com 25 quadros. Um para cada ano de O alquimista. Aquele livro do Paulo Coelho deveria ser lido por todo mundo. Ele e O mundo é plano, de Thomas Friedman - que fala sobre o que acontece no século 21.
Você segue algum ritual quando pinta?
Eu tomo café, sempre estou tentando emagrecer, mas adoro comida. Quando chego no estúdio, ligo o som, desligo do mundo e começo a pintar. Pinto quando tenho tempo, a qualquer hora.
Já li que seu local de pintura é superorganizado e quem você não suja absolutamente nada ao pintar…
Eu sou organizado mesmo, sem organização tudo está perdido.

BRITTO PARA ELES

Abelardo da Hora

"Conheci Romero quando fazia um monumento para os estudantes na Aeso. Ele estava trabalhando com o avião lá no gramado e fiquei brincando com ele: 'é isso aí que você vai fazer?'. E ele repondeu: 'é sim!'. 'Pois parece algo que caiu, ainda bem que você não está dentro'. Considero Romero um de nossos mais legítimos representantes, com muito talento e vigor em tudo o que faz, e de uma alegria e vitalidade exuberantes em toda a sua obra".

Francisco Brennand

"Conheci Romero Britto ainda menino através de uma amiga que já admirava seus desenhos. Sim, era modesto. Mas um apaixonado pelo ofício que pretendia levar adiante. Estava nos seus olhos a desmesurada atenção a tudo que se lhe dizia sobre a pintura e sobre as coisas do mundo.
O seu passar pelos caminhos do aprendizado foi rápido e certeiro como uma flecha. Saiu do Brasil e voltou um artista completo, afogado em cores muito bem compartimentadas. A tropicália brasileira confunde os trópicos luminosos e quase brancos – nas suas cores decompostas pela luz – com um país de estampas coloridas, embora a verdade seja outra. O Brasil não é um jardim e sim uma floresta indomável.
O conhecido crítico e cineasta Fernando Monteiro diz que 'Romero Britto é um fenômeno de afirmação no campo artístico internacional, cuja força talvez não tenha sido devidamente avaliada'. Raul Córdula, artista plástico e curador de arte, afirma que o pintor Romero Britto 'é um fenômeno mercadológico'. É claro que ele é tudo isso e também um artista que transita pelo mundo afora. Coisa rara entre brasileiros. Eu, inclusive".

Derlon Almeida

"Romero Britto não foi exatamente uma influência para mim, mas certamente é um artista bem-sucedido e com um público fiel".

Gil Vicente

"Eu acho que Romero, pelo que me lembro do início da carreira dele aqui, no Recife, sempre quis ser uma celebridade e conseguiu. Ele tem uma empresa organizada e isso é importante para ele".

J. Borges

"Apesar de não conhecê-lo pessoalmente, já vi o trabalho dele e acho muito bom. Gostaria de parabenizá-lo porque somos todos colegas e é uma felicidade que ele divulgue nossa arte mundo afora. Desejo que ele se dedique ainda mais à arte, tenha ainda mais sucesso e muita alegria. E que aproveite - porque ficar bêbado no aniversário é a melhor coisa que tem".

Wilton de Souza

(pintor e irmão do artista plástico Virgolino)
"Romero Britto era muito amigo de Wellington (Virgolino), de frequentar sua casa. E as pinturas de Wellington têm um contorno muito especial, que certamente influenciaram Romero. E isso não deprecia a arte dele porque ele faz um trabalho autêntico, original, que ele mesmo criou, e que tem uma acolhida pública muito grande e nos honra, por ser mais um pernambucano atravessando fronteiras".

Rinaldo

"A princípio acho muito ruim o fato das pessoas criticarem demais ele. Chega a ser uma deturpação da realidade porque ele é um grande artista. Um cara que tem inserção no mundo inteiro, deve ter algo que preste. For a isso, acho o trabalho dele excelente e muito ligado ao design e à ilustração, o que ele faz muito bem. Ele domina bem a técnica que vem trabalhando. É um mérito ter o desdobramento profissional que ele alcançou. Parabéns!".

João Lin

"Hoje existe um fazer artístico que reproduz padrões e modelos e se entrega ao mercado para gerar divisas. E isso é um comportamento que não é exclusivo de Romero Britto, é uma visão que está presente na produção atual e acho que isso precisa ser discutido".

ROMERO PELA ARTE
O artista foi solicitado para se definir em três quadros:

The hug (O abraço)
Representa minha receptividade a novas pessoas e experiências. Também demonstra o alcance que desejo para meu trabalho. Minha intenção é ampliar, com minha arte, a alegria, a felicidade e o amor para tantas pessoas quanto possível no planeta.



A new day (Um novo dia)
Estou sempre otimista em relação ao amanhã, acreditando que o próximo dia será melhor do que o anterior; trabalhando duro e semeando amor e felicidade para cumprir meu papel nesta realidade. Estou sempre inspirado quando acordo para Um novo dia.




Night landscape (Paisagem noturna)
Essa, para mim, é a noite que antecede Um novo dia — na qual foco minha energia em fazer do amanhã um dia ainda melhor do que hoje.



Crédito das imagens: Romero Britto/Divulgação









Fonte:
Diário Pernambuco
Revista Viver edição 06-10-2013