sábado, 26 de abril de 2014
terça-feira, 22 de abril de 2014
CURIOSIDADES SOBRE O SAL
Conheça algumas curiosidades sobre o Sal
Sal: O condimento milenar chegou a ser um grande vilão quando o assunto é saúde. A quantidade de sódio, o principal componente que contribui para doenças cardiovasculares e pressão arterial, pode variar de acordo com os tipos de sal e tem limite estipulado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que recomenda o consumo máximo de 5 g.
Com a produção mundial em longa escala do sal, sua essência natural não desenfreou a demanda: seu refinamento garante a exatidão na hora de mensurá-lo em receitas e uniformidade mais veloz em preparos. Porém, a praticidade pode ter um preço alto: o procedimento químico retira a potencialidade de seus minerais.
A grande variedade de sais presentes no mercado expandiu o leque de possibilidades em cada tipo de preparo. Algumas versões do condimento têm ganhado mais destaque na gastronomia: de efeito crocante e sabor suave, o sal do Himalaia e a Flor de Sal podem garantir um toque especial a saladas e outras opções de pratos.
Sal refinado ou marinho
Especialistas defendem que o sal refinado ou de cozinha deve ser usado com moderação na preparação dos alimentos e retirado da mesa para evitar a adição a refeições já prontas. “Ele é uma mistura de 60% de cloreto e 40% de sódio, substâncias que, juntas, formam o sal”.
1 g de sal refinado = 400 mg de sódio
Sal light
O sal light pode ser uma boa alternativa para controlar melhor a hipertensão. Embora 50% de sua composição seja de cloreto de sódio, 50% são de cloreto de potássio. O que isso significa? O corpo depende de um equilíbrio hídrico regulado por sódio e potássio, sendo o primeiro retentor de líquidos e o segundo diurético. Ingerindo os dois, portanto, o organismo não retém tanta água e, assim, não leva ao aumento da pressão arterial. Ele só não é recomendado a indivíduos com doenças renais, uma vez que o problema leva ao acúmulo de potássio nos rins, o que pode favorecer doenças cardíacas.
1 g de sal light = 197 mg de sódio
Sal grosso
Tradicionalmente usado para temperar carnes, o sal grosso evita o ressecamento dos alimentos justamente por não ter passado pelo processo de refinamento. Ele apresenta a mesma quantidade de sódio do sal de cozinha.
1 g de sal grosso = 400 mg de sódio
Flor de sal
Considerado um sal gourmet, a flor de sal costuma estar presente apenas em restaurantes mais requintados . O tempero é obtido na camada superior das salinas antes de serem depositadas no fundo, quando, então, se transformam no sal marinho. A coloração acinzentada se dá devido à presença de areia, mas também é comum o uso de outros elementos para alterar a cor do produto.
1 g de flor de sal = 450 mg de sódio
Sal marinho
O sal refinado e o marinho são praticamente iguais, contendo mais de 99% de sódio em sua composição. A principal diferença está no formato dos grãos: enquanto o primeiro é refinado para passar pelo buraco do saleiro, o segundo passa por um refinamento mais rústico, resultando em grãos irregulares, mas não tanto quanto os do sal grosso. “Essa particularidade faz com que o sal marinho gere uma ‘explosão de sabor salgado’ na língua”, afirma a nutricionista Roseli. Assim como o sal de mesa, ele pode temperar carnes, aves, peixes, verduras e legumes, realçando o sabor desses alimentos.
1 g de sal marinho = 420 mg de sódio
Sal negro
O sal negro é um sal não refinado procedente da Índia. Por conta de compostos de enxofre presentes em sua composição, ele tem um forte sabor sulfuroso. Outro fator que chama a atenção é a cor cinza rosada, que evidencia sua origem vulcânica. Além de compostos sulfurosos, o sal negro é formado por cloreto de sódio, cloreto de potássio e ferro. Pode temperar receitas com carne, aves e peixes e também ser utilizado na finalização de pratos.
1 g de sal negro = 380 mg de sódio
Sal rosa do Himalaia
Encontrado aos pés do Himalaia, região que há milhões de anos foi banhada pelo mar, o sal do Himalaia é considerado o mais antigo e puro dos sais marinhos. Ele tem quase metade do sódio encontrado no sal comum e possui mais de 80 minerais, tais como cálcio, magnésio, potássio, cobre e ferro. Por conta disso, os cristais ganham tom rosado e sabor agradável e suave. De acordo com a especialista, ele pode ser usado em carnes, aves, peixes, saladas e legumes, além de cair muito bem na finalização e decoração de alguns pratos.
1 g de sal rosa do Himalaia = 230 mg de sódio
Sal líquido
O sal líquido é obtido pela dissolução de sal de altíssima pureza e sem aditivos em água mineral. Com embalagem contendo 250 ml, trata-se do primeiro e único sal iodado do Brasil apresentado na forma líquida. Com sabor suave, o sal líquido pode ser usado em todos os alimentos, sem alterar suas características. Além disso, sua aplicação em spray permite a distribuição uniforme do sal na medida de seu paladar. Tal característica também permite controlar melhor as quantidades ingeridas.
0,1ml de sal líquido em spray = 11mg de sódio
Sal do Havaí
Essa variedade de sal não é refinada e tem coloração avermelhada, devido a presença de uma argila havaiana chamada Alaea, rica em dióxido de ferro. De sabor suave, pode ser acrescentada a várias receitas, como saladas, massas, grelhados e aves. Tem quase a mesma quantidade de sódio encontrada no sal comum, portanto, nada de mão pesada no saleiro.
1 g de sal havaiano = 390 mg de sódio
Sal defumado
Existem diferentes tipos de sais defumados, usado principalmente na culinária requintada e tem um preço bastante salgado. No entanto, os mais tradicionais e cobiçados são o francês – também chamado de fumée de sel – e o dinamarquês. O sal defumado francês é feito com cristais de flor de sal defumados lentamente, em fumaça fria resultante da queima de ripas de barris de carvalho usados no envelhecimento de vinho chardonnay. Já o sal defumado dinamarquês é feito segundo a tradição viking: após a evaporação da água do mar, o sal é secado em recipiente aberto sobre uma fogueira fumacenta, feita com galhos de madeiras aromáticas, como carvalho e cerejeira.
1g de sal defumado = 395 mg de sódio
Sal de cura
Utilizado para conservar carnes, esse tipo mineral é composto por 94% de cloreto de sódio e 6% de nitrito de sódio.
Sal Kosher
É puro e refinado. Geralmente é utilizado pelos judeus para fazer conservas, mantendo a nitidez da salmoura. Ele não contem carbonato de magnésio. Mais denso do que o sal comum, deve ser utilizado com cuidado.
Sal saborizado
Consiste em qualquer tipo de sal que recebe ervas ou legumes desidratados na moagem. Pode ser comprado em supermercados ou empórios, mas pode ser preparado em casa.
"Sal: Composições minerais variadas possibilitam diversos níveis de salga, aromas e temperos"
(Samira Bouaou/Epoch Times)
VazulA
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terça-feira, 15 de abril de 2014
ADOÇANTES PARA SUBSTITUIR O AÇUCAR
Seis tipos de adoçantes para substituir o açúcar
Alguns deles não devem ser consumidos por certas pessoas
O adoçante dietético é produzido a partir de edulcorantes, substâncias naturais ou artificiais responsáveis pelo sabor doce. Eles possuem um poder de adoçamento muitas vezes muito maior que o açúcar de cana (açúcar comum) e são recomendados para dietas especiais como as de restrição (principalmente no diabetes) e de emagrecimento. Atualmente existe uma ampla variedade de adoçantes como o ciclamato, a sucralose, o acessulfame-K, o steviosídeo, o aspartame, entre outros.
Eles foram desenvolvidos inicialmente para atender os diabéticos, já que eles devem restringir o açúcar e os produtos doces da alimentação devido ao quadro de hiperglicemia (alta taxa de glicose no sangue) que apresentam. Com o tempo, o adoçante dietético passou a ser usado também no controle de peso, como uma estratégia de facilitar a redução calórica. Atualmente, é consumido inclusive por pessoas que desejam manter o peso.
O adoçante dietético pode sim, ser utilizado como aliado no tratamento da obesidade, contudo para o resultado ser eficaz e duradouro, é preciso mudar todos os hábitos alimentares incorretos, aderindo a um plano alimentar equilibrado que irá promover emagrecimento gradual e saudável. A seguir, uma relação dos principais tipos de adoçantes encontrados no mercado, com suas respectivas características:
1. SUCRALOSE: Adoçante obtido a partir da cloração da sacarose, sendo o único adoçante derivado do açúcar. Apresenta um poder de doçura 600 vezes superior ao açúcar, resistindo muito bem às altas temperaturas, não possuindo sabor residual amargo. O FDA / EUA aprovou seu uso com base em inúmeras pesquisas que mostraram que o adoçante não apresenta efeitos tóxicos, nem efeitos carcinogênicos, reprodutivos e neurológicos. Não é metabolizada pelo organismo, sendo eliminada por completo em 24 horas pela urina.
2. SACARINA: A sacarina é o adoçante artificial não calórico mais antigo que existe. Sua descoberta ocorreu em 1879 e sua utilização ocorre desde 1900. Também extraída de um derivado do petróleo, o ácido sulfanoilbenzóico, apresenta um poder adoçante 200 a 700 vezes maior que o açúcar da cana (sacarose). Sozinha, em altas concentrações, a sacarina tem gosto residual amargo e metálico e, por isso, é normalmente associada ao ciclamato. No nosso organismo ela é absorvida lentamente, mas não é metabolizada, sendo excretada de forma inalterada pelo rim. Sua maior qualidade é o fato de ser estável a altas temperaturas, podendo ser utilizada em preparações quentes.
3. CICLAMATO: Descoberto em 1939, entrou no mercado a partir da década de 50. É largamente usado no setor alimentício, sendo aplicado em adoçantes de bebidas dietéticas, geléias, sorvetes, gelatinas etc. Com o menor poder adoçante, é 40 vezes mais adoçante que a sacarose, não calórico e possui sabor agradável e semelhante ao açúcar refinado (apresentando um leve gosto residual). É um adoçante sintético, não calórico, a partir de um derivado do petróleo, o ácido ciclo hexano sulfâmico. O ciclamato hoje é permitido no Brasil, Estados Unidos, Canadá e em mais de quarenta países, É um dos adoçantes mais baratos do mercado. Deve ser evitado por hipertensos, já que costuma aparecer na forma sódica, ou seja, combinado com sódio.
4. ASPARTAME: Edulcorante artificial descoberto em 1956, é uma proteína dissociada produzida a partir dos aminoácidos encontrados normalmente nos alimentos: fenilalanina e acido aspártico. Possui sabor agradável e semelhante ao açúcar branco, só que com o potencial adoçante 200 vezes maior, permitindo o uso de pequenas quantidades. Seu valor energético corresponde a 4 cal/g. Muito usado pela industria alimentícia, principalmente nos refrigerantes diet. Talvez seja o adoçante mais apreciado devido ao seu sabor bastante parecido com o açúcar, sem apresentar residual amargo. O aspartame perde sua doçura quando submetido a altas temperaturas. Por isso, sugere-se que seja utilizado em alimentos e líquidos após a retirada do fogo. É contra-indicado para os portadores de fenilcetonúria (incapacidade do organismo de metabolizar a fenilalanina), uma anomalia rara que geralmente é diagnosticada no nascimento (teste do pezinho). Pelo mesmo motivo, também se desaconselha o uso por grávidas.
5.ACESSULFAME-K: Descoberto em 1967, o acessulfame foi aprovado pelo FDA- Food and Drug Administration em 1988 para uso em bebidas, sobremesas, gomas de mascar e adoçantes de mesa. O acessulfame- K é um sal de potássio sintético produzido a partir de um ácido da família do ácido acético. Com um poder de doçura 180 a 200 vezes maior que o açúcar, esse adoçante tem um sabor residual semelhante à glicose. O organismo o absorve, mas não metaboliza, o que significa que é eliminado tal como é ingerido. É um adoçante considerado totalmente seguro e por ser estável a altas temperaturas facilita sua utilização em preparações forno e fogão.
6. STEVIOSIDEO: Adoçante natural descoberto em 1905, extraído da stévia, uma planta originária da Serra do Amanbaí, na fronteira do Brasil com o Paraguai. É muito consumido no mundo oriental, principalmente no Japão. Seu poder adoçante é cerca de 200 a 300 vezes maior que o da sacarose, sendo o único adoçante de origem vegetal produzido em escala industrial. É totalmente atóxico e seguro ao organismo, mas seu uso é pequeno devido a um sabor residual amargo que possui.
VazulA
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quinta-feira, 10 de abril de 2014
terça-feira, 8 de abril de 2014
quarta-feira, 2 de abril de 2014
50 ANOS DEPOIS DOS HORRORES DA DITADURA MILITAR
MANUEL CARLOS E HELENA SERRA AZUL MONTEIRO - 31/03/2014
"A gente teve que recomeçar a vida várias vezes"
A frase-título desta entrevista é o cordão umbilical que une Helena e Manuel.
Juntos, mãe e filho voltam aos escuros da ditadura
Manuel Monteiro e Helena Serra Azul: filho e mãe sofreram os açoites da ditadura militar no Brasil.
Ele nasceu enquanto ela estava presa por subversão, em Recife.
Ao longo dos anos de chumbo, foram muitas separações
Não há um jeito mais ameno de começar a história de Manuel. Ele nasceu na prisão. Foi batizado no presídio; viveu os oito primeiros meses no cárcere; visitava, escoltado, o pai em outra cadeia.
Manuel Monteiro, biólogo e servidor público, é filho de Helena Serra Azul (Helena Concentração) e Francisco Monteiro (Chico Passeata) - casal que foi perseguido, preso e torturado pela ditadura militar brasileira (1964-1985). Helena estava grávida de Manuel quando foi encarcerada na Colônia Penal Feminina Bom Pastor, em Recife. Ela e Chico faziam parte da Ação Popular e do Partido Comunista do Brasil, organizações que contestavam o regime autoritário de governo. Nesta entrevista, feita em uma sala da Universidade Federal do Ceará, onde Helena é professora, mãe e filho trocam lembranças sobre os anos de incertezas. E reafirmam cumplicidades e amor inquebrantáveis.
O POVO - A partir de qual fase da vida você foi tendo curiosidade sobre a própria história? Houve algum fato específico ou palavra ouvida que lhe despertaram o interesse sobre o passado?
Manuel Carlos Serra Azul Monteiro - Que eu me lembre bem, logo quando foi lançado aquele livro, pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Brasil Nunca Mais (1985), meu avô mandou o livro para minha mãe. E eu sempre gostei muito de ler, peguei o livro. Mas eu era muito jovem e foi muito chocante. (Manuel tinha 14 para 15 anos).
Helena Serra Azul - Nessa época, tivemos que sair de Fortaleza. Conseguimos (ela e o marido, Francisco/Chico Monteiro) terminar Medicina, só que não conseguíamos emprego. Meu marido foi trabalhar com o pessoal de Comunidades (Eclesiais) de Base, em Aratuba, ficou mais de dois anos lá. E eu fiquei fazendo residência. Não tinha emprego aqui. Fui demitida, no serviço público, por causa das ideias (na ditadura, Helena e Chico foram filiados à Ação Popular e ao PC do B, organizações contrárias ao regime militar). Foi em 77. O Chico já era muito envolvido com saúde pública. Aí, fomos convidados para ir pra Campinas, o pessoal garantia trabalho. Moramos lá durante oito anos e tivemos muito apoio. Nesse período, saiu o primeiro trabalho oficial sobre ditadura, o Brasil Nunca Mais. Dom Paulo Evaristo (Arns) foi o grande idealizador. Choca muito porque é o que nós dissemos na auditoria militar. E tem um depoimento meu na parte das mulheres grávidas. Quando saiu o livro, meu pai teve acesso antes da gente. Ele manda pelo correio. (Olha para o filho) Eu nem sabia que foi o primeiro contato oficial que você teve.
OP - Que reação você teve, Manuel? Conseguiu ler?
Manuel - Li um bocado. Mas eu não tinha ideia do que era exatamente. Quando meu tio (Manoel Fonseca) esteve preso (no IPPS), em Fortaleza, a gente ia visitá-lo, mas era dito que era uma escola.
Helena - Isso foi em 1974, ele e o primo tinham três pra quatro anos.
Manuel - Era uma festa porque o pessoal fazia uns quadros (aos sábados, dias de visitas no IPPS da ditadura, havia exposição e feira de artesanatos que os presos produziam), ofereciam doce pra gente. Lembro pouca coisa. Pra gente, que não sabia (a dimensão da ditadura), era tranquilo, não tinha problema.
OP - Quando foi se formando sua consciência dos sentimentos de medo, de ausência dos pais, de insegurança?
Manuel - Isso ficou no subconsciente por 30 anos, praticamente. Eu, casado, com minha esposa, ficamos um mês ou dois na casa da minha mãe. E eu só dormia quando ela chegava. Eu inverti os papéis. Minha mãe dava plantão e eu não dormia, ficava lendo. Mas era tudo muito subliminar, eu não tinha compreensão. Na época, minha mãe usava uns tamancos e, quando ela chegava, eu já sabia pelo barulho dos tamancos. E tinha a maneira de andar dela, aquele ritmo. E eu tinha horror à Polícia, a guarda qualquer que fosse.
Helena - A farda, em si, tinha uma representação.
Manuel - E tinha também essa questão: a gente sempre achava que estava sendo observado, que todo mundo sabia quem éramos nós. Mesmo os filhos. Mas nós não sabíamos quem eram as pessoas que estavam olhando pra gente. Meu avô gostava muito de fotografia e filmagem, e eu era o contrário.
Helena - Até hoje, a gente é um pouco assim; eu e minhas irmãs... Com essa ida pra São Paulo (Campinas), foi outra experiência. Era como se a gente estivesse exilado no Brasil.
OP - Ainda sobre a primeira infância. Manuel nasceu na Colônia Penal Bom Pastor e passou oito meses lá com a senhora?
Helena - Quando fui presa, estava com dois meses de gravidez. Não tive grandes problemas na gravidez em si. Teve (problema) na fase que eu estava incomunicável, que a gente ficou 50 dias, na fase das torturas e tal. Quando fui pro presídio, começaram a chegar outras presas políticas, ficaram umas dez mulheres. E, quando o Manuel nasceu, eu fui com uma escolta, ele nasceu na maternidade de Casa Amarela. Fui muitíssimo bem tratada. É os dois lados da moeda. Tinha uma repressão enorme, mas a gente sempre conseguiu apoio por parte de setores. Setores da Igreja mais progressista sempre nos apoiaram. A diretora do presídio era uma freira e foi pegar a gente. Ela ficou tão comovida com a situação que disse: “Não vou pedir autorização do auditor e nem do esquema (de repressão), vou levar você por uma questão cristã, para seu marido conhecer o menino”. Manuel, com um dia de nascido, fomos direto para a Casa de Detenção. Chamaram Chico no parlatório. A primeira coisa que Chico fez foi aquela festa! Manuel era muito bonito! Lembro que ele tirou logo a roupa do menino pra ver! (risos) A gente era muito novo, tinha 20 anos. Voltamos pro presídio. Com um mês, ele foi batizado. O prior dos beneditinos no Brasil foi nos visitar. Ele foi tirar um padre que estava preso no Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e passou a nos visitar toda semana. Ele foi fundamental porque levou as denúncias pra fora do Brasil, arranjou advogado no Rio de Janeiro pra nos defender. No meu julgamento, Manuel estava presente, tinha nascido há pouco tempo. E a gente faz o batizado do Manuel dentro do presídio e consegue que o Chico vá com uma escolta. Foi a segunda vez que o Chico viu o Manuel, com mais ou menos um mês depois. Foi uma festa no presídio.
OP - E por que o nome Manuel?
Helena - Manuel Carlos era o nome do avô do Chico. É que a gente queria botar um nome brasileiro.
OP - Manuel, o que é mais marcante, para você, do período da ditadura militar?
Manuel - Tudo pra gente era filtrado. A maioria das coisas são pesadelos. E lembro uma vez, na casa da minha avó materna, entrou uma pessoa com uma arma. Meu pai e meu tio desarmaram. Eu me lembro, vagamente, disso.
Helena - No presídio, quem sempre ajudava a gente eram as mães das presas políticas. Por isso, ficou um vínculo tão forte. Elas levavam ele pro médico. Havia muita solidariedade. Só que, quando assume o Médici (1969-1974), a coisa vai ficando cada vez mais difícil. O estresse (na prisão) foi muito grande, teve aquele problema do sequestro do embaixador (suíço Giovanni Bucher, em dezembro de 1970, por guerrilheiros da Vanguarda Popular Revolucionária. Em troca, os sequestradores exigiram a libertação de 70 presos políticos). Lógico, Manuel vivia isso.
OP - Ele chorava muito?
Helena - Ele era um menino ótimo, passava o dia todo nos braços, o coletivo tomava conta dele. Ele tinha dez mães! Até hoje, todo mundo diz que é mãe dele. Com oito meses, ficava impossível (o bebê continuar com Helena, na prisão. Não havia espaço ou privacidade). Eu dividia cela com uma presa comum. Aí, ele foi pra casa da minha sogra. E foram várias separações... Mas, em nenhum momento, Manuel deixou de reconhecer a mim ou ao pai. Eu ainda fico presa, quando a gente sai (da prisão), ele estava com um ano e pouco.
OP - E quando você sente mais a presença dos seus pais perto de você com segurança?
Manuel - Não me lembro muito da primeira infância.
Helena - Teve outra prisão, em Fortaleza, em 1972. Ele ia completar dois anos. Foi, extremamente, traumática. Porque eles invadiram a casa da minha sogra e puxaram uma arma e ele estava nos braços da minha sogra. Inclusive, saíram arrastando a gente, botaram capuz, levaram a gente pro 23º BC e foi um nível de tortura horrível. Foi na Semana Santa de 72. E o Manuel ficou abaladíssimo. A minha sogra disse que ele ficou chorando 24 horas, só parava quando dormia. Quando acordava, já chorava.
OP - Manuel, houve conversas que foram silenciadas quando você se aproximava? Muitos por quês sem resposta?
Manuel - Eu sabia que eles tinham sido presos, agora, eu nem queria saber o porquê. E tinha ódio de quem tinha prendido eles.
Helena - (Olhando para ele) Lembro, Manuel, tu bem bebezinho, naquela época do ufanismo do Médici, e a gente mostrava (a foto do general) e dizia que era o “cara do mal” (risos). Lembro que você tinha horror do Médici, quando o via.
Manuel - Tinha o Médici, o Ernesto Geisel, o Figueiredo. E tinha as coisas muito estranhas, por exemplo: a própria morte do Castelo Branco, do Tancredo Neves, do Ulysses Guimarães. Até mesmo a morte de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, fica uma incógnita.
OP - Você perguntava as coisas para seus pais?
Manuel - Não, não gostava muito. Quem falava era a minha mãe, geralmente. Eu não queria saber.
Helena - Depois dele, tive a Janaína. A Janaína é três anos mais nova. Ela viveu também a ditadura, teve os traumas, mas com ele foi muito mais agressivo. Ela sofreu indiretamente. Porque tivemos que sair daqui, demoramos pra ter a casa da gente (moraram na casa dos sogros). Só fomos ter o primeiro apartamento (alugado), o Manuel já tinha completado seis anos. Tivemos que ir embora pra São Paulo, é outra ruptura. Fomos pra Campinas, vivemos lá oito anos, voltamos. É como se essa volta fosse um pouco de resgate, eu só voltava se fosse pra Fortaleza, pela referência da gente. Quando a gente volta, ele é adolescente. Acho que isso marcou muito. Durante todo esse período, Manuel teve que fazer ludoterapia. E ele tinha raiva das psicólogas! (risos).
OP - Por que a raiva?
Manuel - Ninguém gosta de psicólogo, não! (risos)
Helena - Manuel começou a ficar calado demais. Com três anos, ele estudou no Colégio Canarinho. Me chamaram e disseram que o Manuel não falava com ninguém. O pessoal começou a ficar preocupado porque ele não conversava. A professora foi ouvir a voz dele quando foi visitar a gente, no dia que a Janaína nasceu! Ele já estava com três anos.
Manuel - Eu só falava as coisas em casa.
Helena - Quando a gente foi pra Campinas, o Manuel estava com oito anos. Fizemos nova avaliação lá e o neuropediatra achou que tudo era por conta dos traumas e orientou pra gente levar pra uma psicóloga infantil. Ele teve que fazer psicomotricidade. Hoje, ele está bem, mas teve que tomar medicação até nove anos.
OP - Na adolescência, como foram se construindo as relações de amizade, com o mundo?
Manuel - Eu estava acostumado aqui. Cheguei a conhecer dois bisavós. E os meus primos eram quase como irmãos, porque era tudo na mesma casa. Fortaleza era muito pequena, na época. A gente foi pra Campinas em 78, 79, aí, tem as diferenças culturais, o fato de ir não por querer, mas por uma situação. Então, eu estava em Campinas, pensando em Fortaleza.
Helena - Ele nunca se adaptou muito em Campinas.
Manuel - Era aquela coisa das raízes do nordestino. Além disso, já tinha minhas dificuldades de relacionamento. Quando comecei a me acostumar com Campinas, voltamos pra cá. Em 86, a gente volta e minha mãe fica lá, terminando o Doutorado. Campinas, até hoje, é uma cidade que tem um padrão de avanço muito grande. Bibliotecas públicas, parques, até sala de cinemas, tinha uma orquestra municipal... Mas a falta que fazia era o calor (humano) e a praia! (ele sorri).
Helena - E tinham também as dificuldades econômicas. É porque essas coisas a gente não passa pras crianças. A gente teve que recomeçar a vida várias vezes. Primeiro, durante a ditadura: a gente fica mais de quatro anos sem conseguir estudar. Depois, quando a gente termina (Medicina), eu sou demitida e o Chico faz um concurso, mas só chamam até o anterior a ele. Depois, a gente recomeça tudo em Campinas. (Voltam na gestão Maria Luiza Fontenele, em1986). Aí, começa tudo de novo. Eu fiquei um ano dando plantão domingo de manhã, de noite, até conseguir fazer concurso pra universidade. E isso influenciava a família. Tinha um brinquedo que ele queria que a gente comprasse, eu achava ele feio: o Falcon que, na época, pra gente, era muito caro. Tudo a gente investia na educação e na alimentação. Extra? A gente ter televisão colorida, demorou foi muito!
OP - Nos relacionamentos, na escola ou com colegas de trabalho, você teve que sair em defesa dos seus pais porque eram “comunistas” e “ex-presos políticos”?
Manuel - Ex-presos políticos, não ouvi muito falar. Uma vez, briguei na escola porque falaram mal do meu pai, mas não foi quanto a essa questão. Ele tinha sido candidato a vereador e teve um coleguinha que chamou um apelido com meu pai.
Helena - O Chico também foi uma grande liderança na prefeitura de Campinas. Nas grandes manifestações e greves, eles estavam presentes, no pátio. A Janaína adorava! Só que ela era muito pequena e não entendia muito. Ela só gostava de ver o Chico falando! Ela dizia: “Meu pai, meu pai!”. Já era o final do processo da ditadura.
Manuel - Em Campinas participei (da política), era mesário de uma eleição de grêmio.
Helena - (Olhando para o filho) Lembro que tu era pré-adolescente e andava com a gente, colando cartaz nos postes! (risos) Manuel devia ter uns 12 anos. Era final da ditadura, era o que a gente podia fazer.
OP - Você teve que viver a vida dos seus pais? Quer dizer, as pessoas esperavam que você tivesse os mesmos ideais deles?
Manuel - As pessoas olhavam e diziam: “Ah, é filho do Chico Passeata e da Helena!”. Quando não conhecia, porque eu não sabia se era um amigo ou um adversário, a gente sempre ficava com isso na cabeça, então, eu sempre me escondia. Geralmente, eu não botava o sobrenome e sempre me escondia de fotos e de filmagens.
OP - E quanto a seguir o caminho dos seus pais?
Manuel - Ninguém chegou a cobrar, ao contrário. As pessoas tinham medo quando eu participava de alguma coisa. Uma vez, numa passeata, desligaram o microfone para eu não falar. As pessoas já vinham na defensiva quando eu estava no lugar.
OP - Você se envolveu com a política?
Manuel - Eu me envolvi com política antes mesmo do meu pai se candidatar, em 82, na época das Diretas (Já!, movimento de abertura democrática). Teve um comício muito grande em Campinas. Você deve ter visto o Fora Collor (1992), foi semelhante. Eu também participei do Fora Collor, estava lá, na Praça do Ferreira. Nas Diretas, depois de Campinas, a gente foi pra São Paulo. Aí, era a Fafá de Belém cantando o Hino, com aquele vozeirão dela!
Helena - O Manuel participou de muita coisa, do movimento estudantil... Ele foi do Centro Acadêmico da Biologia.
OP - Manuel, como você foi revertendo o terror da ditadura em algum legado para a vida?
Manuel - Uma das formas que usei foi essa participação política. Foi uma maneira de ir perdendo um pouco o medo. Lembro da primeira campanha do Lula, em 89.
Helena - A primeira vez que eu votei pra presidente foi a primeira vez que ele votou.
Manuel - Teve a história, que eu achei muito bonita, que ele colocou quando venceu a eleição: que a esperança venceu o medo. Essa forma de participar um pouco da política foi uma maneira de superar isso, d´eu enfrentar. Porque se eu ficasse como vítima disso tudo, seria pior.
OP - Para muitos brasileiros, a ditadura parece algo muito distante. O que a ditadura, que completa 50 anos, significa para você?
Manuel - Ela existiu porque a maioria do povo brasileiro ou apoiou, ou se negou a se contrapor. Hoje, o que se diz? Não se ligue a nenhum partido político, não reclame de nada, como se fosse uma classe, o político. Quando a gente vê, em Aristóteles, que o ser humano é um ser político. Então, aqueles são representantes que nós escolhemos ou deixamos que os outros escolham por nós. Se eles estão ali é porque a sociedade brasileira os elegeu.
OP - Seus pais se tornaram história do Brasil. Que imagem você construiu deles?
Manuel - A história do Brasil é muito maior do que isso (ditadura). Começou há muito tempo e continua. Quem teve essas lutas no passado foi importante, mas tem as pessoas que estão lutando hoje em dia e tem as pessoas que continuarão lutando no futuro.
OP - No dia a dia da casa, os pais eram o quê, para você?
Manuel - Eram muito jovens e eram meus pais! Tanto que esse menino foi mexer com meu pai e eu dei um soco nele! Fui pra coordenação, disseram: “Você vai pedir desculpas”. “Não, não vou!”. Até hoje, não me arrependo.
OP - Você sempre foi mais próximo de quem?
Manuel - Da minha mãe. Bom, o filho, geralmente, disputa um pouco com o pai. (risos) Mãe sempre é mãe, né? Uma coisa que acho importante é a família. A família é o embrião da sociedade.
Fonte:
O POVO on line
Matéria dia 31/03/2014
VAzulA
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terça-feira, 1 de abril de 2014
IRMÃS SERRA AZUL QUE LUTARAM CONTRA A DITADURA
Irmãs perseguidas na ditadura relembram sofrimentos e evolução
50 anos após o golpe militar.
O Tribuna do Ceará traz a história das três irmãs Serra Azul, que lutaram contra a ditadura
Iracema, Helena e Maria do Carmo são as irmãs que fizeram parte da luta no Ceará
1° de abril de 1964. Jango, que até então era presidente, foi deposto e Ranieri Mazzili, o presidente da Câmara dos Deputados, assumiu o cargo máximo do país no dia seguinte. Mesmo com as resistências da época, após 15 dias, o primeiro presidente da ditadura assumia: Humberto de Alencar Castelo Branco. E o golpe para a revolução estava feito.
No mesmo período, a família Serra Azul assistia ao evento sem expectativa do que os reflexos do novo sistema causariam após quatro anos. Ainda adolescente, a primogênita das três filhas da família, sonhava em ser médica e já criava a esperança de mudar o Brasil e, quem sabe, o mundo.
É depois de 50 anos do golpe, que a professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) Helena Serra Azul conta sua história e das irmãs, mergulhando nos traumas e nos momentos de um pouco de alegria. Foram muitas emoções, muitas desilusões e muita saudade. Sobre definir esse período, nem ela sabe ao certo. Porém, leva consigo a certeza de que a mulher que se tornou é resultado da fortaleza adquirida naquele período.
Além de Helena, Iracema e Maria do Carmo (a Cacau) Serra Azul – que são auditoras fiscais –também vivenciaram o regime militar de forma até mesmo surreal, que mais pareceria uma lenda. As três irmãs lutaram contra o autoritarismo da época, foram presas, tiveram seus maridos presos, sofreram torturas, viveram na clandestinidade. Hoje, ao se lembrarem de tudo o que passou, percebem que o laço de amizade entre elas é mais forte, fazendo com que nenhuma queira perder a outra novamente.
Lembranças
“Em 64, eu era ainda adolescente e a gente ouviu a discussão sobre a ditadura e tudo. Mas a minha participação mais efetiva foi na universidade, quando fiz vestibular e passei em medicina. A participação da medicina era muito grande, é tanto que a gente vê pelos jornais da época que falam muito das manifestações e muita gente de lá participava. A gente lutava contra a ditadura e por melhores condições de vida, com questões mais específicas”, relembra.
Em 1968, quando o Ato Institucional 5 (AI-5) foi instaurado, Helena estava no segundo ano de faculdade e conheceu o que significa a palavra terror. “Foi o golpe do golpe. Tivemos a casa invadida e eu tinha acabado de me casar”. Por sorte, Helena e o marido Francisco Monteiro não estavam na residência, quando a polícia a invadiu. Tiveram que fugir e foram para Recife. A partir daí, viveram na clandestinidade e ela deu adeus ao seu sobrenome Serra Azul.
Em Recife, o casal foi preso em 1969 e solta em 1971. Na época, Helena estava grávida e teve seu filho no Presídio Feminino do Bom Pastor. Até os 8 meses de nascido, o filho permaneceu com ela, mas foi mandado para a casa da avó, para evitar problemas de saúde. No dia em que foi solta, um alívio. Pisar na rua novamente trazia uma felicidade sem tamanho. Mas a tristeza viria logo, ao lembrar dos rostos e grandes afetos que permaneceram presos.
De volta ao Ceará, em 1972, o casal novamente seria preso. Dessa vez, no interior do estado. “Nos arrastaram, botaram capuz, apontaram armas e meu filho assistiu tudo. Aquela coisa toda que parece um filme”, admite. Foram levados ao 23 BC, localizado atualmente na Avenida 13 de Maio, e por permaneceram.
Cacau
A surpresa ocorreu quando Maria do Carmo foi também levada ao 23 BC. É nessa parte que a história das irmãs se mesclam. Cacau, que tinha acabado de completar 18 anos, foi obrigada a dar um depoimento. Porém, a desculpa inventada resultou em sua prisão. “Isso era um sequestro, porque ficamos incomunicáveis. Tivemos que dar depoimento para tudo e foi muito tortura. A Cacau quase entrava em coma”, revela Helena.
Após ser solta e retornar à faculdade, Helena penou para concluir os estudos. Depois de formada, veio o problema de não conseguir emprego e até ser demitida do trabalho por ter participado de manifestações. Ela, acompanhada de sua família, foram tentar a vida em São Paulo e, pelo menos, conseguiram emprego e seguiram seus destinos.
Após a época de tormenta, Cacau ainda prestou concurso para o Ministério da Fazenda. Porém, por causa de suas ideias, não pode assumir o cargo.
Iracema
Era a vez da terceira irmã aparecer na história. Iracema foi presa em 1974. O motivo seriam as denúncias contra seu marido, também envolvido na luta contra o regime militar. Antes da prisão, o casal e mais dois filhos viviam na clandestinidade, em Recife. Mas acabaram caindo nas mãos da polícia.
Com os pais detidos, os filhos foram apreendidos. Iracema passou um bom período de sua vida sem saber onde eles estavam. Para quem é mãe, o tempo parece ser eterno. Somente após sua mãe e a sogra de Helena investigarem e irem atrás das crianças com ajuda de uma advogada, que conseguiram tê-las de volta. Um dos filhos ficou extramente traumatizado. Após ser solta, Iracema voltou para Fortaleza, mas seu marido permaneceu preso. Somente depois que foi libertado.
“Minha mãe ficava rezando e chorando. Meu pai ficava indo atrás. Minha mãe também foi atrás. A gente sempre contou com a família no ponto de vista de não ser abandonado. Eles seguraram a nossa barra para poder viver tudo isso”, confidenciou Helena.
Helena Serra Azul foi uma das mulheres cearenses que lutou contra a ditadura
Reflexão
Após quase 50 anos de toda essa história, Helena avaliou que o sofrimento trouxe uma coisa boa: aumentou o elo da família. “A gente fica com nossos fantasmas e aprende a lidar com isso. Isso dá muita força para você enfrentar os outros problemas”. O único ponto que ainda parece ser sua fraqueza é quando se fala das torturas. “Eu prefiro não falar disso. Ficou no passado. Você não tem ideia do que é viver em uma ditadura”.
Sobre a sociedade atual, Helena ainda não considera o ideal. Além disso, acha que a mudança para a democracia foi muito lenta. “Lutei a vida toda para a construção de uma sociedade dessa. Ainda acredito numa sociedade mais socialista, pessoas com mais espaço para se desenvolver. Acho que isso é possível. Não como a gente pensava na juventude. A gente achava que ia conseguir mudar a sociedade em pouco tempo”.
Mesmo não tendo conseguido o objetivo da época, as três irmãs se alegram de que tudo tenha mudado. A liberdade atual é essencial para o desenvolvimento da sociedade. “O fato da gente não viver numa ditadura é ótimo! Mas isso não foi dado, isso foi conquistado e muitos perderam a vida”. É acreditando nisso e mantendo a esperança do que ainda pode ser melhorado, que as irmãs Serra Azul tem a certeza de que a luta não foi em vão.
Helena e o marido foram presos em Recife.
Ela teve o filho ainda na prisão.
Fonte:
Tribuna do Ceará
Matéria 01/04/2014
VAzulA
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