ANO 2013 - 120 ANOS DO NASCIMENTO DO POETA SERRA AZUL
NATUREZA RITMADA
Inconfundível com os demais poetas, sua poesia
é de cunho cientifíco- filosófico, não cultivado no Brasil. Seu livro“Natureza
Ritmada” é prova disto e “Versos Bucólicos”, uma continuação do gênero
predileto. Seu 1º livro publicado“Alfabeto das Musas”, exaltando nomes de mulheres
fictícias, tem mais filosofia que lirismo ou devaneio amoroso. De alma jovem e
vibrante, amava a mocidade, instruindo e estimulando-a, pois tolerava e até
exaltava as produções que tivesse conteúdo, pureza de linguagem e sentido
compreensível.Sua emotividade é extrema e a facilidade com que elogia obras da
natureza,esmaga meio mundo quando verbera os defeitos sociais. Referenciamos
aqui,sua vida e sua obra, que encerram particularidades tão complexas, seu caráter
e independência de espírito, suas atitudes, sua moral inquebrantável na pureza
de costumes e persistência na busca de conhecimentos e sua bondade.
Obras:
Alfabeto das Musas, Natureza Ritmada, Versos Bucólicos, Reflexões de um Rebelado, Cronologia de Homens Ilustres e trabalhos inéditos.
PRIMEIRA PARTE
ALFABETO DAS MUSAS
(Glorificação das letras do alfabeto)
(Glorificação das letras do alfabeto)
ALICE
...E enfim não houve céu que eu não subisse,
Campos de flores que eu não percorresse,
Mares e abismo a que eu não descesse,
A ver se achava o que imitasse Alice
Cheguei ao mar e a pérola me disse:
- "Quem sou eu? Ah! Se tal me parecesse!"
Nem houve flor que inveja não tivesse
Nem estrela que ciúme não sentisse.
E na jornada espiritual que à face
De tudo andei, niguém achei que fosse
Digno de que com ela eu comparasse.
Não encontrei, nem encontrei quem visse
Formosura no mundo como a doce,
Cheia de graça e angélica de Alice.
(Nota:-
Este soneto tem a particularidade de ter as rimas
em isse, esse, asse (ace) e osse (oce). Rimas heterofônicas
no segundo quarteto (parecesse/tivesse), apesar de
homográficas. É um exemplo de prosopopéia.
O primeiro verso do primeiro terceto é um
exemplo de mesodiplose.)
* * * * *
BEATRIZ
É mais formosa que a Beatriz do Dante
Porque, se aquela fosse assim tão bela,
O poeta não teria tido aquela
Visão de inferno e glória ao mesmo instante.
Porque quem vir Beatriz, estou que cante
Somente a glória que ela, em si, revela.
E só poderá ver inferno adiante
Ou purgatório, estando ausente dela.
Assim para a beleza ser completa,
É preciso ter na alma a formosura
Que se ajuste à dop corpo em linha reta
E esta beleza da alma se apresenta
Em Beatriz, na virtude e na ternura
De que a beleza dela se ornamenta.
(Nota:- Dante, autor da Divina Comédia,
que foi guiado por Beatriz. Alusão e ironia,
figuras de pensamento).
* * * * *
CARMEN
_"É tarde! -exclamam os altivos montes...
E Carmen não saiu com seus fulgores,
Para banhar de luz nossos pendores,
Mudar em ouro as lágrimas das fontes!"
A árvore, a rocha e os animais, as frontes
Curvam, dizendo; _ "Onde ela está, pastores?
_Quem vem trazer o aroma para as flores?
_Quem vem pintar de rosa os horizontes?"
Há pelos ramos módulas endeixas.
Chora o bosque, saudoso, e, ao mesmo instante
Soam, na selva, sonorosas queixas...
Mas, enfim, ela chega e tudo cora
Perguntando; _"Onde estavas, doce amante?
E ela, sorrindo; _"Eu acordei agora!"
* * * * *
DOLORES
Irmã gêmea do dia que esmaece
Com os últimos lampejos do sol-poente,
Ela se evola, à proporção que desce
A terra, a noite lúgubre e silete.
A impressão que deixou seu vulto ausente,
_Semelhante à expressão que transparece
Da Virgem Dolorosa, _inspira ao crente
A contrição o sonho, o anseio, a prece...
Onde ela não passou, a sombra errante,
Estão a germinar crimes e horrores,
O vício, a morte, o mal, a todo instante...
Mas quando a aurora surge em seus albores,
A luz com um riso etéreo e deslumbrante,
Segue, beijando os rastros de Dolores.
* * * * *
ELOÁ
Foi na hora que Jesus ao céu subia
Que Eloá de uma lágrima nasceu,
Das lágrimas vertidas por Maria
Na mesma noite em que Jesus desceu.
Como no oceano a pérola nascia
Das lágrimas de dor que o mar verteu,
Assim, na dor que à Mãe de Deus feria,
A pérola Eloá do céu desceu.
Por isso é que ela, na Semana Santa,
Não quer aparecer, não ri, não canta,
Na sua religiosa solidão.
E porque ela se isola, a Natureza,
No mundo espalha universal tristeza
Por toda Sexta-Feira da Paixão.
* * * * *
FLORIPES
Quem dos Pares de França ouviu a lenda
Sobre quem teve o nome assim, que um dia
Um deles desposou, talvez entenda
Que eu fale dessa flor da Alexandria.
Não é, porém, nem de outra que estaria
Lá. Digo para que ninguém empreenda
O plano de, atualmente, ir à Turquia
Ser o Gui de Borgonha da legenda.
Que o brasão dos antigos cavaleiros,
Alcança mesmo sem brandir a espada
Do incrível Roldão ou de Oliveiros.
Aquele que auferir a alta ventura
De vê-la aqui, mais bela que a sonhada
Floripes, que na fábula figura.
(Nota:- Floripes, amor de Gui de Borgonha,
um dos doze Pares de França, como
Roldão ou Oliveiros)
* * * * *
GUIOMAR
_"Guiomar! Guiomar!" Em todo som que havia
Na voz do vento e na amplidão infinda
Do mar, que o mesmo nome repetia,
Foi o que ouvi naquela noite linda
_"Guiomar! Guiomar!" Repete o oceano aínda
(Pois é ela, que o embelece e o acaricia,
Cuja luz suave o torvo aspecto alinda
E muda o triste pranto em harmonia)
Ele, que chora sempre eternas mágoas
Freme, e, logo que a encara, à flor das águas,
Um gozo extremo do último revela...
E a causa - ao lhe indagar _(que sempre o dome
A causa!) faz-me ver que é de seu nome
Ser a terminação do nome dela.
* * * * *
HELENA
Quem viu da Arcádia a história da princesa,
Filha de Leda e Tíndaro, não diga
Que falo da que foi raptada e presa
Por Páris, _causa da troiana intriga
Falo da que, por mágica estreiteza,
Á formosura helênica se liga
Com o mesmo nome e a heráldica beleza
Que era a graça e o esplendor da Grécia antiga.
E é superior à bela grega! É pena
Não ter agora como bela Helena
Os poetas e os pintores que a endeusaram!
Falta a lira pagã de Homero, agora.
Faltam os deuses que a celebrizaram
Na arte, no amor, na estética de outrora.
(Nota:- Alusão à Helena de Tróia)
* * * * *
IDILVA
Idilva, arcanjo ideal, criança loura,
De róseas faces, lábios purpurinos,
Tem traços celestiais e alabastrinos
De Angélica visão deslumbradora.
O áureo esplendor de seus cabelos finos,
Embaça a luz do luar e o sol desdoura
E, com seus olhos meigos e divinos,
Deslumbra a própria Vênus sedutora
Onde ela passa, ofuscam-se os fulgores
Do sol; obumbra-se o verdor do prado;
E festejam-na os pássaros e as flores.
E um cortejo de estrelas que a acompanha,
Se apaga, enfim, por tê-las ofuscado
O sol, dourado os cimos da montanha.
* * * * *
JULIETA
Tudo, ao vê-la passar, se ajoelha e reza
Pois, de segui-la, tudo tem desejo
Aonde quer que ela vá. No entanto vejo,
Que, por modéstia, tudo ela despreza.
Se é dia, o sol com reverente beijo,
Imprime o amor em toda a Natureza;
Se é noite, a lua vem com seu cortejo
De estrelas, sob o céu cor de turquesa.
Seus encantos, só sabe decantá-los,
Quem, às mãos, sustiver a harpa do vento,
Quem, dos astros, tiver na fronte, os halos.
Decantá-la, um mortal, que atrevimento,
Se ela é raimha de quem são vassalos
O vento, a luz, o mar e o firmamento?!
* * * * *
BEATRIZ
É mais formosa que a Beatriz do Dante
Porque, se aquela fosse assim tão bela,
O poeta não teria tido aquela
Visão de inferno e glória ao mesmo instante.
Porque quem vir Beatriz, estou que cante
Somente a glória que ela, em si, revela.
E só poderá ver inferno adiante
Ou purgatório, estando ausente dela.
Assim para a beleza ser completa,
É preciso ter na alma a formosura
Que se ajuste à dop corpo em linha reta
E esta beleza da alma se apresenta
Em Beatriz, na virtude e na ternura
De que a beleza dela se ornamenta.
(Nota:- Dante, autor da Divina Comédia,
que foi guiado por Beatriz. Alusão e ironia,
figuras de pensamento).
* * * * *
CARMEN
_"É tarde! -exclamam os altivos montes...
E Carmen não saiu com seus fulgores,
Para banhar de luz nossos pendores,
Mudar em ouro as lágrimas das fontes!"
A árvore, a rocha e os animais, as frontes
Curvam, dizendo; _ "Onde ela está, pastores?
_Quem vem trazer o aroma para as flores?
_Quem vem pintar de rosa os horizontes?"
Há pelos ramos módulas endeixas.
Chora o bosque, saudoso, e, ao mesmo instante
Soam, na selva, sonorosas queixas...
Mas, enfim, ela chega e tudo cora
Perguntando; _"Onde estavas, doce amante?
E ela, sorrindo; _"Eu acordei agora!"
* * * * *
DOLORES
Irmã gêmea do dia que esmaece
Com os últimos lampejos do sol-poente,
Ela se evola, à proporção que desce
A terra, a noite lúgubre e silete.
A impressão que deixou seu vulto ausente,
_Semelhante à expressão que transparece
Da Virgem Dolorosa, _inspira ao crente
A contrição o sonho, o anseio, a prece...
Onde ela não passou, a sombra errante,
Estão a germinar crimes e horrores,
O vício, a morte, o mal, a todo instante...
Mas quando a aurora surge em seus albores,
A luz com um riso etéreo e deslumbrante,
Segue, beijando os rastros de Dolores.
* * * * *
ELOÁ
Foi na hora que Jesus ao céu subia
Que Eloá de uma lágrima nasceu,
Das lágrimas vertidas por Maria
Na mesma noite em que Jesus desceu.
Como no oceano a pérola nascia
Das lágrimas de dor que o mar verteu,
Assim, na dor que à Mãe de Deus feria,
A pérola Eloá do céu desceu.
Por isso é que ela, na Semana Santa,
Não quer aparecer, não ri, não canta,
Na sua religiosa solidão.
E porque ela se isola, a Natureza,
No mundo espalha universal tristeza
Por toda Sexta-Feira da Paixão.
* * * * *
FLORIPES
Quem dos Pares de França ouviu a lenda
Sobre quem teve o nome assim, que um dia
Um deles desposou, talvez entenda
Que eu fale dessa flor da Alexandria.
Não é, porém, nem de outra que estaria
Lá. Digo para que ninguém empreenda
O plano de, atualmente, ir à Turquia
Ser o Gui de Borgonha da legenda.
Que o brasão dos antigos cavaleiros,
Alcança mesmo sem brandir a espada
Do incrível Roldão ou de Oliveiros.
Aquele que auferir a alta ventura
De vê-la aqui, mais bela que a sonhada
Floripes, que na fábula figura.
(Nota:- Floripes, amor de Gui de Borgonha,
um dos doze Pares de França, como
Roldão ou Oliveiros)
* * * * *
GUIOMAR
_"Guiomar! Guiomar!" Em todo som que havia
Na voz do vento e na amplidão infinda
Do mar, que o mesmo nome repetia,
Foi o que ouvi naquela noite linda
_"Guiomar! Guiomar!" Repete o oceano aínda
(Pois é ela, que o embelece e o acaricia,
Cuja luz suave o torvo aspecto alinda
E muda o triste pranto em harmonia)
Ele, que chora sempre eternas mágoas
Freme, e, logo que a encara, à flor das águas,
Um gozo extremo do último revela...
E a causa - ao lhe indagar _(que sempre o dome
A causa!) faz-me ver que é de seu nome
Ser a terminação do nome dela.
* * * * *
HELENA
Quem viu da Arcádia a história da princesa,
Filha de Leda e Tíndaro, não diga
Que falo da que foi raptada e presa
Por Páris, _causa da troiana intriga
Falo da que, por mágica estreiteza,
Á formosura helênica se liga
Com o mesmo nome e a heráldica beleza
Que era a graça e o esplendor da Grécia antiga.
E é superior à bela grega! É pena
Não ter agora como bela Helena
Os poetas e os pintores que a endeusaram!
Falta a lira pagã de Homero, agora.
Faltam os deuses que a celebrizaram
Na arte, no amor, na estética de outrora.
(Nota:- Alusão à Helena de Tróia)
* * * * *
IDILVA
Idilva, arcanjo ideal, criança loura,
De róseas faces, lábios purpurinos,
Tem traços celestiais e alabastrinos
De Angélica visão deslumbradora.
O áureo esplendor de seus cabelos finos,
Embaça a luz do luar e o sol desdoura
E, com seus olhos meigos e divinos,
Deslumbra a própria Vênus sedutora
Onde ela passa, ofuscam-se os fulgores
Do sol; obumbra-se o verdor do prado;
E festejam-na os pássaros e as flores.
E um cortejo de estrelas que a acompanha,
Se apaga, enfim, por tê-las ofuscado
O sol, dourado os cimos da montanha.
* * * * *
JULIETA
Tudo, ao vê-la passar, se ajoelha e reza
Pois, de segui-la, tudo tem desejo
Aonde quer que ela vá. No entanto vejo,
Que, por modéstia, tudo ela despreza.
Se é dia, o sol com reverente beijo,
Imprime o amor em toda a Natureza;
Se é noite, a lua vem com seu cortejo
De estrelas, sob o céu cor de turquesa.
Seus encantos, só sabe decantá-los,
Quem, às mãos, sustiver a harpa do vento,
Quem, dos astros, tiver na fronte, os halos.
Decantá-la, um mortal, que atrevimento,
Se ela é raimha de quem são vassalos
O vento, a luz, o mar e o firmamento?!
* * * * *
KORA
Kora com K? Por que razão escreva
Assim, não sei. E, ao mesmo tempo, julgo
Que sendo a mais ideal das ilhas de Eva,
Queira, em tudo, ficar fora do vulgo.
_"Este exotismo pelo ideal promulgo!"
Diz-me ela ao lhe indagar. E a crer me leva
Que alguma cousa gótica divulgo
E alguma cousa jônica me enleva.
Emblema de três raças, deste modo,
Mostra o gênio de um dórico e de um godo
Com a castidade das donzelas sírias...
E a se banhar no seu olhar sereno;
Julgo ver em Castália ou ver no Reno,
Antiga Deusa ou uma das Valquírias.
* * * * *
LAURA
Quem a veja não há (ditosa e santa,
Porque está muito longe de imitá-la
A própria Laura, a quem Petrarca canta)
Que não deseje, então, para exaltá-la.
Ser, com fogo na voz que se levanta,
Doce e mavioso rouxinol que fala
E com voz de sereia na garganta
Novo Petrarca, enfim, para cantá-la.
Do alto as estrelas curvam-se radiosas
Magnetizadas pela maravilha
Momentânea das faces luminosas
Com que seduz a todas, pelo espaço,
Mostrando um sol em cada olhar que brilha,
Movendo um claro céu a cada passo.
(Nota:- Alusão ao amor de Petrarca.
A chave do terceto final conclui com
duas belas metáforas, com a anáfora,
figura de repetição.)
* * * * *
MARGARIDA
O nome da margarida figura nos dicionários com várias
significações poéticas:
a) nome próprio de mulher;
b) no reino vegetal - nome de uma flor;
c) no reino animal - nome que dão à pérola extraída da
concha marinha;
d) no reino mineral - nome de uma pedra preciosa.
Entre Rosa, Violeta e Margarida,
Ninguém soube, jamais, dizer qual era
Das três, a flor que mais enfeita a vida
Cada qual, no seu gênero, a exagera.
Creio, porém que, sobre as mais, impera
A última, quer no lar, quer na avenida,
Nos campos, nos jardins. Se alguém duvida,
Bem pode se informar da Primavera.
Ela, enfim, representa a Natureza
Em seus três reinos dividida . Em fina
Pérola, no animal se representa.
Prende-se à flor e à gema que se ostenta
No mineral. E em tudo, assim, domina:
No perfume, no brilho e na beleza.
(Nota:- A nota inicial do Poeta se desenvolve
como num epânodo (figura de repetição), com
fina ironia no 4° verso do 2° quarteto).
* * * * *
NAÍDE
Não sei bem se Naíde se chamava
Ou Náiade, porém, com perfeição
Me lembro que o seu nome principiava
Com a mesma letra com que escreves - Não!
Sei que aos seus pés o mundo se prostrava,
Como a implorar promessas ou perdão
E após a Natureza me contava
O segredo da própria confissão.
Era todo o Universo apaixonado
De Náiade ou Naíde aos pés prostrado.
Com quem chora aos pés de um confessor.
E embevecido em sua formosura
O mundo todo em luz se transfigura
Numa perfeita confissão de amor.
* * * * *
OLGA
Olga!... Aos ditosos ares onde assume
Tua figura angélica e dourada.
Pensa-se ver um cisne de Prudhomme,
Quando, num lago azul, cantando, nada,
Deus fez o céu de forma arredondada
Como a indicar a letra do teu nome
E a todo sol na esfera constelada,
Manda, também, que a mesma forma tome!
Prevendo o teu encanto, a Natureza
Traçou elipses ou circunferências
Em tudo quanto fez grande no mundo.
E para harmonizar com tal beleza
Com a mesma letra Deus faz reticências
De luz e de astros pelo azul profundo.
(Nota:- Prudhomme, poeta parnasiano francês)
* * * * *
PALMIRA
No manancial que diariamente espera
A uma hora certa o banho de Palmira,
Ouve-se o sol dizer: _Ah! Quem me dera
Ser essa fonte! E a fonte então suspira.
-"Antes quisera ser o sol que gira
Na altura, a vê-la em tudo da alta esfera!"
(Pois que Palmira uma hora só a inspira
Durante vinte e quatro que a lacera!)
Diz a floresta: -"Quero ser a aurora"!
A aurora diz: -"Quisera ser a escura
Alcova, que com sua luz se aclara!"
Murmura a luz: -"Que querem mais agora?"
Aurora, sol, floresta e fonte pura,
Como se fartarão com luz tão rara?!
(Nota:- Rimas em era, ira, ara, ura e ora)
* * * * *
QUITÉRIA
Por que o teu nome é feio, não se deve,
Todavia esquecer tua beleza
Pois que, com esta letra, não se escreve
Um nome belo em língua portuguesa.
Basta ser bela, para o nome, em breve
Transformar-se em brasão de alta nobreza.
Pelo que, não existe, com certeza,
Um nome de mulher que não se eleve.
Como a noite que horror nos anuncia
Mas o clarão do luar e das estrelas
A faz cheia de encanto e de poesia,
O teu nome, Quitéria, teve a sorte
Daquelas noites que se tornam belas
Com as auroras boreais no Polo Norte.
(Nota:- Quitéria começa com a letra "Q",
permitindo ao Poeta glosar o "que" de
diversas maneiras: no 1° verso - por que;
3° verso - pois que; 7° verso - pelo que;
8° verso - que não se eleve; 9° verso
- que horror nos anuncia; 13° verso
- que se tornam belas).
* * * * *
ROSA
Com as rosas da saúde que florescem
Nas pequeninas mãos, na face pura
E outras que em seus cabelos de ouro tecem
Uma auréola de rosas que fulgura
Na fronte, um véu de transparente alvura;
Vai para a igreja. É noiva. Os anjos descem
E, com as capelas de ouro, lhe oferecem
Todas as rosas dos jardins da Altura.
Mas ninguém me pergunte quem seria
Esse noivo feliz, porque, tal dote,
Só mesmo um Ser Divino o merecia!
Pois que todos a viram, ajoelhada,
Recebê-lo das mãos de um sacerdote
No ministério da Hostia Consagrada.
* * * * *
SARA
Na noite em que a exalcei, aos céus erguia
A vista, e via em festa o firmamento
Do assento de uma estrela para o assento*
De outra estrela que além folgava e ria.
Um milhão de girândolas subia,
Soava na altura mágico instrumento
E buscando eu saber por que seria
Tanto alvoroço, pela voz do vento
As estrelas, com frases comovidas
Nun claro gesto de alegria pura
Me dizem sumamente agradecidas.
_ "Em louvor do teu verso que compara
Nossa apagada e mísera leitura
Com a imagem bela e cândida de Sara".
(Nota:- Mesoteleuto de assento e mesodiplose
de estrela nos versos 3° e 4° (fuguras de
repetição).
* * * * *
TEREZA
Esta, por quem se esmera a Natureza
Em conserva-lhe um duplo encantamento,
Ergue à feição humana, um monumento
Moral em toda a sua singeleza.
A luz da graça e do aperfeiçoamento,
_Tesouro de virtude e de beleza
_Mostra também, os dotes do talento
Como assim se ilustrou santa Tereza.
Tal como Júlio César se decide
A imitar Alexandre em sua glória
E que mais tarde o fez assim, progride
Tereza tendo sempre de memória
A Santa de seu nome que preside
Seus atos, quer na vida, quer na História.
* * * * *
URÂNIA
Um dia Urânia veio à terra e após,
Apolo fala e ordena à maior parte
Dos grandes deuses que de toda parte
Acordem, todos, à apolínea voz:
_"Que ordena o meu senhor?" _"Vá um de vós
Atrás de Urânia que fugiu!" Desfarte,
O mais violento que é o guerreiro Marte,
Resolve, então se aproximar de nós.
Mas Netuno, Saturno, Urano, Vênus,
Mercúrio, Jove, grandes e pequenos
Deuses fazem a Apolo objeções:
Que, como Cristo viera noutra idade,
Ela viera ensinar à humanidade
A estrada de ouro das constelações.
(Nota:- Soneto mitológico.
Urânia é a Deusa da Astronomia.)
* * * * *
VIOLETA
A um enxame de abelhas e falenas
Com que o aladomSísifo no ar se cruza,
A Primavera reúne as filhas, plenas
De orvalho, _o vinho que entre as flores se usa.
_"É o natalício de uma que se acusa:
E és tu, Violeta, que entre nós ordenas
E que sucesso tal se reproduza
Sempre, por Flora!" _dizem as verbenas.
Como uma deusa entre as irmãs formosas
Recebe abraços, parabéns e beijos
De açucenas, de lírios e de rosas...
E Violeta, apesar de ser humana
Para acender das outras aos desejos,
Ficou sendo das flores soberana
* * * * *
WALDA
Nasceu talvez num dia em que no Reno
Lançasse o sol o disco avermelhado;
Pois que mostra com algo de encantado
Visor de fada no seu porte ameno
Seus olhos têm a cor do céu sereno
O seu cabelo é um nimbo de ouro ondeado
E o próprio chão se orgulha em ser pisado
Pela alva planta do seu pé pequeno.
Da sua voz o timbre lembra o coro
De Eurídice, ao compasso de uma orquestra*
Por ágeis mãos tangida em liras de ouro
Mas o que mais me atrai na doce Wanda
É o nobre aspecto de guerreira destra
Que abate os leões nos reinos de esmeralda
(Nota:- *Mitologia. Eurídice, mulher de Orfeu.)
* * * * *
XIMENA
À Grécia, outrora a combater os males,
Vieram Pítacus, Bias e enfim os sete*
Filósofos que a História aínda repete
_Sólon; Mison, Quilon; Periandro, Tales.
Com a mesma origem veio aos nossos vales
Ximena, tendo em cruz, um ramalhete
De flores, que lhe ofertam, num banquete
Todo o essencial licor que tem no cálix
Quando ela surge, animam-se os verdores
Em seu louvor, na música do ninho
Voam cantando, alados trovadores
Em cada ramo canta um passarinho
E o vento a segue sacudindo flores
Pelas areias brancas do caminho.
(Nota:- O Poeta relaciona os 7 sábios
da Grécia Antiga.)
* * * * *
YÊDA
É uma incógnita algébrica a figura
Dessa deusa oriental de estranho porte
Como o Japão, de exótica postura
De água e vulcões é um lírico recorte
Mais que as outras se mostra altiva e forte
Na arte das construções e arquitetura
Que à guisa de pilar ou de suporte
Sustem os vigamentos da estrutura
Tem a forma da lira e os esplendores
Dol sol, na voz a célica harmonia
Como que a musicar as sete cores
Do arco-íris que a seus pés mostra a leveza
De um sonho a parecer que se extasia
Em ascensão a própria Natureza.
* * * * *
ZAÍRA
Não, Não* seja eu com minha musa calma
Quem cante os dons de tão divino ser,
Que o poeta, enfim, que há de levar a palma
Porque os cante, está aínda por nascer!
Tenho apenas a idéia que me encalma,
Quanto à expressão ou modo de dizer,
São os versos que ficam dentro dalma
E não poderei nunca os escrever!
Nem mesmo o esboço posso dar do sumo
Encanto de Zaíra que é o resumo
Dos céus nos seus eternos apogeus!...
Entidade divina e soberana
Que não é feita da matéria humana,
Mas do Éter e da Luz, por mão de um Deus.
(Nota:- Repetição enfática do não, epímone).
* * * * *
À CARMINHA
Penélope, rainha da Ítaca e mulher
de Ulisses, a fim de se ver livre de seus
Inúmeros requestadores tecia de noite e
desmanchava de dia o trabalho, com que
havia de presentear o sogro, para, conforme
o costume antigo, obter a licença de contrair
núpcias como viúva, que se supunha, na
longa ausência de seu esposo.
(Da Ilíada)
Penélope moderna, meiga e pura,
Tipo modelo, quando aínda é comum
O delito social que aínda tortura
Os Ulisses do século vinte e um!
Na ausência do homem que a ama, homem algum
Jamais vê com maldade, que a ternura
De seus afetos, se concentra num
Culto de amor que só no lar se apura.
Sem estar sempre e urdir e a desmanchar
A inacabável teia que arma e incita
Falsos amores contra o amor do lar
Cerra-se na virtude, como flor
Que se não mostra ao mundo, mas imita
O amor perfeito, no perfeito amor.*
(Nota:- Epanástrofe: o amor perfeito,
no perfeito maor (figura de repetição -
repete o mesmo final no sentido inverso.)
* * * * *
O QUE REPRESENTAM AS MUSAS
ALICE - A beleza inatingível.
BEATRIZ - A beleza perfeita.
CARMEM - A luz matutina.
DOLORES - A luz crepuscular.
ELOÁ - A beleza mística.
FLORÍPES - A beleza legendária.
GUIOMAR - O luar na praia, a lua.
HELENA - A beleza heráldica.
IDILVA - Os raios do sol sobre a montanha.
JULIETA - O conjunto das belezas naturais.
KORA - A beleza excêntrica.
LAURA - A beleza das águas correntes e límpidas, refletindo o céu.
MARGARIDA - A beleza nos três reinos da natureza percebida.
pelo perfume da flor e pelo brilho da rérola e da gema.
NAIDE - O nascer do dia, a alvorada.
OLGA - A beleza das noites estreladas, dos astros.
PALMIRA - A beleza fugitiva e alternante das cousas, em face da luz.
QUITÉRIA - Auroras boreais aformoseando as feias solidões polares.
ROSA - A inocência e a candura.
SARA - Os meteoros, a luz e os sons em espirais.
TEREZA - A moral (personificação).
URÂNIA - Como sempre, a astronomia. É a musa que fugiu do
gêmio das Apolo para o das do "Alfabeto".
VIOLETA - A primavera e as flores.
WALDA - Valquíria de Vagner.
XIMENA - Os perfumes, os gorgeios e as carícias suaves do vento.
YEDA - A arquitetura, a música e as cores.
ZAÍRA - Entidade cósmica. o éter. Força cósmica ou divindade
dirigente das forças da natureza.
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MARGARIDA
O nome da margarida figura nos dicionários com várias
significações poéticas:
a) nome próprio de mulher;
b) no reino vegetal - nome de uma flor;
c) no reino animal - nome que dão à pérola extraída da
concha marinha;
d) no reino mineral - nome de uma pedra preciosa.
Entre Rosa, Violeta e Margarida,
Ninguém soube, jamais, dizer qual era
Das três, a flor que mais enfeita a vida
Cada qual, no seu gênero, a exagera.
Creio, porém que, sobre as mais, impera
A última, quer no lar, quer na avenida,
Nos campos, nos jardins. Se alguém duvida,
Bem pode se informar da Primavera.
Ela, enfim, representa a Natureza
Em seus três reinos dividida . Em fina
Pérola, no animal se representa.
Prende-se à flor e à gema que se ostenta
No mineral. E em tudo, assim, domina:
No perfume, no brilho e na beleza.
(Nota:- A nota inicial do Poeta se desenvolve
como num epânodo (figura de repetição), com
fina ironia no 4° verso do 2° quarteto).
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NAÍDE
Não sei bem se Naíde se chamava
Ou Náiade, porém, com perfeição
Me lembro que o seu nome principiava
Com a mesma letra com que escreves - Não!
Sei que aos seus pés o mundo se prostrava,
Como a implorar promessas ou perdão
E após a Natureza me contava
O segredo da própria confissão.
Era todo o Universo apaixonado
De Náiade ou Naíde aos pés prostrado.
Com quem chora aos pés de um confessor.
E embevecido em sua formosura
O mundo todo em luz se transfigura
Numa perfeita confissão de amor.
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OLGA
Olga!... Aos ditosos ares onde assume
Tua figura angélica e dourada.
Pensa-se ver um cisne de Prudhomme,
Quando, num lago azul, cantando, nada,
Deus fez o céu de forma arredondada
Como a indicar a letra do teu nome
E a todo sol na esfera constelada,
Manda, também, que a mesma forma tome!
Prevendo o teu encanto, a Natureza
Traçou elipses ou circunferências
Em tudo quanto fez grande no mundo.
E para harmonizar com tal beleza
Com a mesma letra Deus faz reticências
De luz e de astros pelo azul profundo.
(Nota:- Prudhomme, poeta parnasiano francês)
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PALMIRA
No manancial que diariamente espera
A uma hora certa o banho de Palmira,
Ouve-se o sol dizer: _Ah! Quem me dera
Ser essa fonte! E a fonte então suspira.
-"Antes quisera ser o sol que gira
Na altura, a vê-la em tudo da alta esfera!"
(Pois que Palmira uma hora só a inspira
Durante vinte e quatro que a lacera!)
Diz a floresta: -"Quero ser a aurora"!
A aurora diz: -"Quisera ser a escura
Alcova, que com sua luz se aclara!"
Murmura a luz: -"Que querem mais agora?"
Aurora, sol, floresta e fonte pura,
Como se fartarão com luz tão rara?!
(Nota:- Rimas em era, ira, ara, ura e ora)
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QUITÉRIA
Por que o teu nome é feio, não se deve,
Todavia esquecer tua beleza
Pois que, com esta letra, não se escreve
Um nome belo em língua portuguesa.
Basta ser bela, para o nome, em breve
Transformar-se em brasão de alta nobreza.
Pelo que, não existe, com certeza,
Um nome de mulher que não se eleve.
Como a noite que horror nos anuncia
Mas o clarão do luar e das estrelas
A faz cheia de encanto e de poesia,
O teu nome, Quitéria, teve a sorte
Daquelas noites que se tornam belas
Com as auroras boreais no Polo Norte.
(Nota:- Quitéria começa com a letra "Q",
permitindo ao Poeta glosar o "que" de
diversas maneiras: no 1° verso - por que;
3° verso - pois que; 7° verso - pelo que;
8° verso - que não se eleve; 9° verso
- que horror nos anuncia; 13° verso
- que se tornam belas).
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ROSA
Com as rosas da saúde que florescem
Nas pequeninas mãos, na face pura
E outras que em seus cabelos de ouro tecem
Uma auréola de rosas que fulgura
Na fronte, um véu de transparente alvura;
Vai para a igreja. É noiva. Os anjos descem
E, com as capelas de ouro, lhe oferecem
Todas as rosas dos jardins da Altura.
Mas ninguém me pergunte quem seria
Esse noivo feliz, porque, tal dote,
Só mesmo um Ser Divino o merecia!
Pois que todos a viram, ajoelhada,
Recebê-lo das mãos de um sacerdote
No ministério da Hostia Consagrada.
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SARA
Na noite em que a exalcei, aos céus erguia
A vista, e via em festa o firmamento
Do assento de uma estrela para o assento*
De outra estrela que além folgava e ria.
Um milhão de girândolas subia,
Soava na altura mágico instrumento
E buscando eu saber por que seria
Tanto alvoroço, pela voz do vento
As estrelas, com frases comovidas
Nun claro gesto de alegria pura
Me dizem sumamente agradecidas.
_ "Em louvor do teu verso que compara
Nossa apagada e mísera leitura
Com a imagem bela e cândida de Sara".
(Nota:- Mesoteleuto de assento e mesodiplose
de estrela nos versos 3° e 4° (fuguras de
repetição).
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TEREZA
Esta, por quem se esmera a Natureza
Em conserva-lhe um duplo encantamento,
Ergue à feição humana, um monumento
Moral em toda a sua singeleza.
A luz da graça e do aperfeiçoamento,
_Tesouro de virtude e de beleza
_Mostra também, os dotes do talento
Como assim se ilustrou santa Tereza.
Tal como Júlio César se decide
A imitar Alexandre em sua glória
E que mais tarde o fez assim, progride
Tereza tendo sempre de memória
A Santa de seu nome que preside
Seus atos, quer na vida, quer na História.
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URÂNIA
Um dia Urânia veio à terra e após,
Apolo fala e ordena à maior parte
Dos grandes deuses que de toda parte
Acordem, todos, à apolínea voz:
_"Que ordena o meu senhor?" _"Vá um de vós
Atrás de Urânia que fugiu!" Desfarte,
O mais violento que é o guerreiro Marte,
Resolve, então se aproximar de nós.
Mas Netuno, Saturno, Urano, Vênus,
Mercúrio, Jove, grandes e pequenos
Deuses fazem a Apolo objeções:
Que, como Cristo viera noutra idade,
Ela viera ensinar à humanidade
A estrada de ouro das constelações.
(Nota:- Soneto mitológico.
Urânia é a Deusa da Astronomia.)
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VIOLETA
A um enxame de abelhas e falenas
Com que o aladomSísifo no ar se cruza,
A Primavera reúne as filhas, plenas
De orvalho, _o vinho que entre as flores se usa.
_"É o natalício de uma que se acusa:
E és tu, Violeta, que entre nós ordenas
E que sucesso tal se reproduza
Sempre, por Flora!" _dizem as verbenas.
Como uma deusa entre as irmãs formosas
Recebe abraços, parabéns e beijos
De açucenas, de lírios e de rosas...
E Violeta, apesar de ser humana
Para acender das outras aos desejos,
Ficou sendo das flores soberana
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WALDA
Nasceu talvez num dia em que no Reno
Lançasse o sol o disco avermelhado;
Pois que mostra com algo de encantado
Visor de fada no seu porte ameno
Seus olhos têm a cor do céu sereno
O seu cabelo é um nimbo de ouro ondeado
E o próprio chão se orgulha em ser pisado
Pela alva planta do seu pé pequeno.
Da sua voz o timbre lembra o coro
De Eurídice, ao compasso de uma orquestra*
Por ágeis mãos tangida em liras de ouro
Mas o que mais me atrai na doce Wanda
É o nobre aspecto de guerreira destra
Que abate os leões nos reinos de esmeralda
(Nota:- *Mitologia. Eurídice, mulher de Orfeu.)
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XIMENA
À Grécia, outrora a combater os males,
Vieram Pítacus, Bias e enfim os sete*
Filósofos que a História aínda repete
_Sólon; Mison, Quilon; Periandro, Tales.
Com a mesma origem veio aos nossos vales
Ximena, tendo em cruz, um ramalhete
De flores, que lhe ofertam, num banquete
Todo o essencial licor que tem no cálix
Quando ela surge, animam-se os verdores
Em seu louvor, na música do ninho
Voam cantando, alados trovadores
Em cada ramo canta um passarinho
E o vento a segue sacudindo flores
Pelas areias brancas do caminho.
(Nota:- O Poeta relaciona os 7 sábios
da Grécia Antiga.)
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YÊDA
É uma incógnita algébrica a figura
Dessa deusa oriental de estranho porte
Como o Japão, de exótica postura
De água e vulcões é um lírico recorte
Mais que as outras se mostra altiva e forte
Na arte das construções e arquitetura
Que à guisa de pilar ou de suporte
Sustem os vigamentos da estrutura
Tem a forma da lira e os esplendores
Dol sol, na voz a célica harmonia
Como que a musicar as sete cores
Do arco-íris que a seus pés mostra a leveza
De um sonho a parecer que se extasia
Em ascensão a própria Natureza.
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ZAÍRA
Não, Não* seja eu com minha musa calma
Quem cante os dons de tão divino ser,
Que o poeta, enfim, que há de levar a palma
Porque os cante, está aínda por nascer!
Tenho apenas a idéia que me encalma,
Quanto à expressão ou modo de dizer,
São os versos que ficam dentro dalma
E não poderei nunca os escrever!
Nem mesmo o esboço posso dar do sumo
Encanto de Zaíra que é o resumo
Dos céus nos seus eternos apogeus!...
Entidade divina e soberana
Que não é feita da matéria humana,
Mas do Éter e da Luz, por mão de um Deus.
(Nota:- Repetição enfática do não, epímone).
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À CARMINHA
Penélope, rainha da Ítaca e mulher
de Ulisses, a fim de se ver livre de seus
Inúmeros requestadores tecia de noite e
desmanchava de dia o trabalho, com que
havia de presentear o sogro, para, conforme
o costume antigo, obter a licença de contrair
núpcias como viúva, que se supunha, na
longa ausência de seu esposo.
(Da Ilíada)
Penélope moderna, meiga e pura,
Tipo modelo, quando aínda é comum
O delito social que aínda tortura
Os Ulisses do século vinte e um!
Na ausência do homem que a ama, homem algum
Jamais vê com maldade, que a ternura
De seus afetos, se concentra num
Culto de amor que só no lar se apura.
Sem estar sempre e urdir e a desmanchar
A inacabável teia que arma e incita
Falsos amores contra o amor do lar
Cerra-se na virtude, como flor
Que se não mostra ao mundo, mas imita
O amor perfeito, no perfeito amor.*
(Nota:- Epanástrofe: o amor perfeito,
no perfeito maor (figura de repetição -
repete o mesmo final no sentido inverso.)
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O QUE REPRESENTAM AS MUSAS
ALICE - A beleza inatingível.
BEATRIZ - A beleza perfeita.
CARMEM - A luz matutina.
DOLORES - A luz crepuscular.
ELOÁ - A beleza mística.
FLORÍPES - A beleza legendária.
GUIOMAR - O luar na praia, a lua.
HELENA - A beleza heráldica.
IDILVA - Os raios do sol sobre a montanha.
JULIETA - O conjunto das belezas naturais.
KORA - A beleza excêntrica.
LAURA - A beleza das águas correntes e límpidas, refletindo o céu.
MARGARIDA - A beleza nos três reinos da natureza percebida.
pelo perfume da flor e pelo brilho da rérola e da gema.
NAIDE - O nascer do dia, a alvorada.
OLGA - A beleza das noites estreladas, dos astros.
PALMIRA - A beleza fugitiva e alternante das cousas, em face da luz.
QUITÉRIA - Auroras boreais aformoseando as feias solidões polares.
ROSA - A inocência e a candura.
SARA - Os meteoros, a luz e os sons em espirais.
TEREZA - A moral (personificação).
URÂNIA - Como sempre, a astronomia. É a musa que fugiu do
gêmio das Apolo para o das do "Alfabeto".
VIOLETA - A primavera e as flores.
WALDA - Valquíria de Vagner.
XIMENA - Os perfumes, os gorgeios e as carícias suaves do vento.
YEDA - A arquitetura, a música e as cores.
ZAÍRA - Entidade cósmica. o éter. Força cósmica ou divindade
dirigente das forças da natureza.
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(Obs.: As notas são de Henriques do Cerro Azul, filho do autor)
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